Expressão de microRNAs em pacientes com manifestações neurológicas infectados com herpesvírus e SARS-CoV-2

Abstract

A COVID-19 pode causar uma série de manifestações clínicas que mimetizam a infecção por Herpesvírus Humano (HHV), como alterações neurológicas. A família herpesviridae é caracteriza por causar latência e apresentar reativação em pacientes imunocomprometidos. Estudos mostram o aumento de casos de reativação do HHVs em pacientes infectados por SARS-CoV-2, mas sua influência no desfecho da doença e sua associação com alterações neurológicas durante a COVID-19 não está clara. microRNAs (miRNAs), que são pequenos RNAs não codificantes, vem sendo propostos como potenciais biomarcadores de desfecho ou condição clínica e alguns estudos têm investigado miRNAs como biomarcadores promissores de neuroinflamação. Este estudo teve como objetivo principal investigar a ocorrência da infecção dos HHVs em pacientes com COVID-19 e verificar a associação de manifestações neurológicas com a carga viral de HHV e com o perfil de expressão de miRNAs. Nossa coorte do estudo foi 106 pacientes. Assim, observamos que, nos casos estudados, a gravidade da COVID-19 foi associada à idade avançada, comorbidades, carga viral mais elevada e dispneia. Biomarcadores laboratoriais como bilirrubina direta, proteína C reativa, gama-glutamil transferase, lactato desidrogenase, creatinina, ferritina e contagem de neutrófilos, também foram significativamente associados à COVID-19 grave. Em 79,2% dos casos, houve detecção de pelo menos um tipo de HHV. Pacientes com alta carga viral (Ct < 25-27) de SARS-CoV-2 por RT-PCR foram mais propensos a apresentar detecção do vírus herpes simplex 1 (p = 0,037). Entre os pacientes coinfectados com SARS-CoV-2 e HHVs, 26,4% apresentaram sintomas neurológicos e observou-se associação estatisticamente significante entre alterações neurológicas e detecção de HHV-6 (p = 0,034). Na análise do perfil de expressão dos miRNAs, por reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR), foi observado que miRNAs associados à neuroinflamação foram altamente expressos em pacientes com distúrbios neurológicos e detecção de HHV-6. Amostras de indivíduos infectados por HHV-6 e SARSCoV-2 apresentando alterações neurológicas apresentou expressão diferencial de mir-21, mir146a, miR-155 e miR -let-7b, em comparação com as amostras de pacientes não infectados com HHVs e sem alterações neurológicas (p < 0,01). Em consonância com estudos anteriores, nossos achados demonstram alteração na expressão de miRNAs associados a manifestações neurológicas que podem ser desencadeadas por ação dos HHVs, o que sugerem o potencial desses miRNAs como biomarcadores de alterações neurológicas. Durante a revisão da literatura reportamos desfechos neurológicos causados por infecção herpética, como encefalite e meningite, mas destacamos que a condição promovida pela infecção por HHV é um suposto gatilho para doenças neurodegenerativas. Além disso, encontramos uma variedade de miRNAs humanos e codificados por herpesvírus associados a distúrbios neurológicos. Este estudo fornece informações relevantes sobre a alta prevalência de infecções por HHVs em pacientes com COVID-19 indicando a importância de se investigar quais impactos a infecção e reativação herpética pode ter durante a doença COVID-19.