Caracterização de neutrófilos circulantes em pacientes com hanseníase: abordagens morfológicas, funcionais e fenotípicas na polarização da resposta imunológica

Abstract

Os neutrófilos são os leucócitos circulantes mais abundantes do sangue periférico e indispensáveis para a resposta imunológica do hospedeiro. Recentemente, houve uma renovação de conceitos associados à biologia de neutrófilos. Por muito tempo estas células foram consideradas uma população homogênea, no entanto, diversos trabalhos na literatura demonstraram a presença de subpopulações de neutrófilos circulantes em diversas condições clínicas e na homeostase. Atualmente, os neutrófilos podem ser classificados de acordo com critérios fenotípicos (N1/Antitumoral versus N2/Pró-tumoral), funcionais (pró-inflamatório versus anti-inflamatório), morfológicos (segmentados versus hipersegmentados) e físicos (baixa versus alta densidade). A hanseníase é uma doença com desenvolvimento crônico causada pela infecção pelo Mycobacterium leprae. Os pacientes desenvolvem diferentes manifestações clínicas que estão diretamente relacionadas a polarização da resposta imunológica do hospedeiro. Pacientes paucibacilares (PB), desenvolvem resposta imune do tipo celular específica do tipo 1 que controla a disseminação do bacilo e quantidade de lesões. Por outro lado, pacientes multibacilares (MB) desenvolvem uma resposta humoral robusta, mas ineficaz contra M. leprae e apresentam múltiplas lesões e alta carga bacilar. Até o momento, não existem estudos suficientes para elucidar o envolvimento de neutrófilos em hanseníase não reacional. Neste estudo, neutrófilos circulantes de pacientes com diagnóstico de hanseníase foram avaliados de acordo com o perfil polarizante clínico das formas clínicas da hanseníase PB e MB. Foi realizado um estudo prospectivo com 50 pacientes com diagnóstico de hanseníase antes do tratamento que foram diagnosticados e tratados no Ambulatório Souza Araújo, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil. Dados clínicos e demográficos foram extraídos dos Prontuários e do banco de dados e analisados. Amostras de sangue periférico foram coletadas para a análises de neutrófilos circulantes. A presença de DNA de M. leprae foi detectada em neutrófilos isolados de pacientes MB. Identificamos uma subpopulação de neutrófilos circulantes em pacientes com hanseníase que apresentaram o fenótipo CD16⁻CD66b⁺ com características distintas de expressão dos receptores CXCR1/2, CD62L e aumento da expressão de CXCR4. Não observamos diferenças morfológicas e funcionais quando comparamos neutrófilos de pacientes PB e MB, entretanto, neutrófilos MB apresentaram maior expressão de CD11b, indicando maior ativação celular. Em conjunto, nossos dados apontam para potencial contribuição de neutrófilos na persistência e disseminação do bacilo e contribuem para o entendimento do papel de neutrófilos na hanseníase não reacional, estabelecendo bases para investigações futuras.