Câncer de estômago: estudo do efeito idade-período-coorte na incidência em populações latino-americanas selecionadas e perfil clínico-epidemiológico dos casos hospitalares brasileiros

Abstract

Esta tese teve como objetivo ca racterizar a incidência do câncer de estômago em populações selecionadas da América Latina segundo os efeitos da idade, do período e da coorte de nascimento e determinar o perfil sociodemográfico e clinico epidemiológico dos casos hospitalares no Brasil, e stimando a prevalência dos atrasos para o início do tratamento e fatores associados. Foram conduzidos dois estudos. No primeiro, a tendência da incidência do câncer de estômago foi avaliada em populações selecionadas de países da América Latina (Cali na Colômbia, de 1983 - 2012; Costa Rica, de 1982 - 2011; Goiânia no Brasil e Quito no Equador, de 1988 - 2012), cobertos por Registros de Câncer de Base Populacional (RCBPs). Foi calculada a variação percentual anual média (AAPC), e os modelos APC foram estimados usa ndo a regressão de Poisson. No segundo estudo, foi descrito o perfil clínico epidemiológico dos casos hospitalares diagnosticados com câncer de estômago e os fatores associados ao tempo de espera para início do tratamento dessa neoplasia no Brasil durante os anos de 2007 a 2017. Para tanto, foi utilizada a base de dados nacionais dos registros hospitalares de câncer. Foi observada diminuição nas taxas de incidência padronizadas por idade para ambos os sexos em todas as populações selecionadas cobertas por R CBPs. O efeito idade foi estatisticamente significativo em todas as áreas, e a inclinação da curva atingiu picos nas faixas etárias mais avançadas. O efeito coorte foi observado em todos os RCBPs avaliados. Quanto ao efeito período, observou se aumento da razão de taxas para ambos os sexos na Costa Rica (1997 - 2001) e em Goiânia (2003 - 2007), enquanto Quito (1998 - 2002) apresentou queda apresentou queda. Quanto aos casos de câncer gástrico identificados no período de estudo nos Registros de Câncer do Brasil, observou se que 65 % eram do sexo masculino, 28,9% tinham entre 60 e 69 anos, 14,6% eram analfabetos, 48,7% tinham ensino fundamental incompleto, 62% tinham companheiro e 48,5% residiam na região sudeste do Brasil. A cirurgia foi o principal tratamento (51,1%), enquanto 43,2 % dos casos foram diagnosticados com estadiamento IV, 23% estadiamento III, 18,9% estadiamento II e 14,9% e estadiamento 0/I. Os atrasos no tratamento foram superiores a 50% para aqueles com diagnóstico e sem tratamento. A idade >50 anos, residir nas regiõ es sudeste e norte, ser analfabeto, ter plano de saúde, estadiamentos 0/IA e IB/IIIA, ter realizado radioterapia e quimioterapia como 1ª intervenção foram associados independentemente ao atraso no tratamento. Nas populações cobertas pelo RCBP selecionadas no presente estudo, a redução das taxas de incidência parece ser influenciada por efeitos de coorte, sugerindo que o processo de abertura econômica levou a mudanças na exposição a fatores de risco ao longo de sucessivas gerações. Quanto aos casos de câncer gástrico identificados nos Registros de Câncer no Brasil, observou se disparidade no tempo para início do tratamento de acordo com a primeira intervenção recebida, estadiamento e status de chegada à instituição. Além disso, constatou se a associação de fa tores sociodemográficos e clínicos a um atraso para início do tratamento.