Caracterização espacial e temporal da endemia hansênica na zona urbana de Floriano-Piauí, 2004 a 2013

Abstract

Introdução: A hanseníase é uma doença infecciosa crônica, causada pelo Mycobacterium leprae, que pode produzir alterações na pele e nos nervos periféricos com potencial para produzir deformidades e incapacidades físicas. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar a distribuição da hanseníase na zona urbana de Floriano, Piauí, no período compreendido entre 2004 e 2013. Métodos: Trata-se de estudo ecológico, que utilizou como população de estudo os casos novos registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), dados do censo demográfico de 2010 e a malha digital dos bairros. Foram feitas distribuições do total de casos e taxa de detecção, análise descritiva das características sociodemográficas, epidemiológicas, clínicas e operacionais. Foi investigada a distribuição espacial do número de casos e taxa de detecção global nos bairros, em seguida foi calculado o índice de Moran (I) e o índice local de Moran (LISA). A condição socioeconômica foi verificada com a construção de um escore baseado em cinco indicadores do censo demográfico de 2010 em valores percentuais: domicílios com pelo menos cinco moradores, domicílios sem banheiro ou sanitário, renda do responsável pela família de um a dois salários mínimos, ligação a rede geral de água, ligação a rede geral de esgoto. Resultados: Foram diagnosticados 646 casos novos no período com taxa média de detecção global de 129,28 casos/100.000 habitantes e de 55,39 casos/100.000 habitantes em menores de 15 anos. Demanda espontânea foi a forma de detecção mais frequente. Houve leve predomínio do sexo masculino, faixa etária economicamente ativa (média de 40,71 anos), cor parda e baixa escolaridade. Os casos paucibacilares representaram 59,60% dos casos, com predominância da forma indeterminada, 2,17% dos pacientes apresentaram grau de incapacidade 2 no diagnóstico e 1,08% na alta. A taxa de detecção foi elevada em 35 bairros, exceto Curtume e Nossa Senhora da Guia, que permaneceram como áreas silenciosas. Foram encontrados aglomerados com altos valores da taxa de detecção e outliers de valores altos e baixos. Conclusões: A taxa de detecção global da hanseníase em Floriano ultrapassou em todos os anos do período estudado o parâmetro de hiperendemia preconizado pelo Ministério da Saúde (40 casos/100.000 habitantes) e a detecção elevada em menores de 15 anos evidenciou transmissão ativa e recente da doença. Verificou-se na distribuição espacial que existiu uma concentração de casos nas áreas centrais com tendência a espalhamento pelas áreas adjacentes e a periferia no decorrer do período. Foram detectados aglomerados com taxas muito elevadas, especialmente na região central.