Organização da atenção em saúde bucal na estratégia saúde da família: análise da utilização da abordagem sócio-dental e do Índice de Desenvolvimento Familiar na ESF Manguinhos, RJ

Abstract

A incorporação da Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família (ESF) representa a possibilidade de reorganização da saúde bucal na Atenção Básica. O diagnóstico de saúde é fundamental para a organização do processo de trabalho e estabelecimento de modalidades de atenção diferenciadas para famílias e indivíduos de acordo com a sua vulnerabilidade e necessidades em saúde, seguindo o princípio da eqüidade. A avaliação das necessidades de cuidado em saúde bucal implica na ampliação do olhar técnico do examinador com métodos que considerem a subjetividade e a qualidade de vida dos indivíduos, como a abordagem sócio-dental. O objetivo deste estudo foi analisar a utilização da abordagem sócio-dental e a avaliação das condições de vida das famílias na organização da atenção em saúde bucal a adolescentes na ESF. Trata-se de um estudo seccional conduzido com adolescentes de 12 anos cadastrados no ano de 2009 na ESF Manguinhos, localizada no município do Rio de Janeiro, RJ. Foram utilizados quatro instrumentos de coleta de dados: 1) Questionário sobre as condições sócioeconômicas e características das famílias, construído com base no Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF); 2) Child Oral Impacts on Daily Performances (ChildOIDP) para avaliar o impacto da saúde bucal nas atividades diárias dos adolescentes; 3) Questionário sobre a propensão à adoção de comportamentos saudáveis em saúde bucal; e 4) Ficha para registro das condições das coroas dentárias e a necessidade de tratamento. Na abordagem sócio-dental foram utilizadas medidas clínicas de cárie, o nível de propensão e o Child-OIDP. As famílias foram classificadas conforme o IDF „não grave‟, „grave‟ e „muito grave‟. A comparação entre a proporção de adolescentes com necessidade de tratamento para cárie dentária pelos métodos normativo e sóciodental foi verificada com o teste de Mc Nemar. Para os adolescentes de famílias com IDF „muito grave‟, „grave‟ e „não grave‟, a necessidade de tratamento normativo foi estatisticamente maior do que pela abordagem sócio-dental (58,3%, 38,1% e 3,6%, versus 9,4%, 12,0% e 0,0%) (p-valor ≤ 0,001). O emprego da abordagem sócio-dental e do IDF possibilitaram sistematizar informações para o planejamento e a oferta dos serviços de saúde bucal a partir do levantamento das necessidades de cuidado e do estabelecimento de prioridades de cuidado/tratamento.