A prática da vigilância em saúde do trabalhador na agricultura familiar em cena: o uso da videogravação

Abstract

Esta pesquisa se propôs a analisar o uso da videogravação nas práticas da Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) na agricultura familiar no que tange à participação dos trabalhadores, ao conhecimento do processo saúde e doença e seu papel transformador. Procurou-se articular a perspectiva ergológica, análises das atividades de trabalho com fundamentações teóricas e práticas advindas de estudos relacionados à produção fílmica sobre o trabalho e da VISAT. Os procedimentos metodológicos incluíram observações filmadas das atividades de trabalho, envolvendo diálogos com os trabalhadores; análise dos materiais gerados e produção de vídeos temáticos a partir do olhar da VISAT e identificação de problemas referentes à relação saúde-trabalho, e realização de Encontros sobre o Trabalho. A sistematização da experiência permitiu discutir aspectos concernentes à forma de utilização da câmara, aos planos de filmagem e ao “efeito câmera”, gerados pelo uso da câmera. Observouse que o uso da videogravação permitiu o detalhamento de todas as etapas de trabalho, agregando elementos que dificilmente seriam detectados apenas em entrevistas e em anotações de campo. Além disso, mostrou-se como um instrumento importante para o estreitamento do vínculo entre a equipe e a família. Os vídeos utilizados nos encontros sobre o trabalho apresentaram questões que se destacaram: o custo da produção; as posturas forçadas; a exposição ao sol; as situações de trabalho na feira; a forma de lazer; o uso de agrotóxicos e as condições de ida para a feira. Interessante salientar que as atividades realizadas pelos trabalhadores guiaram o processo de filmagem, o que nos leva a dizer que o roteiro acabou sendo criado por seus protagonistas, que, desta forma, puderam participar do comando das observações filmadas. O potencial do uso da videogravação pode ser verificado, por exemplo, a partir de questões inesperadas que emergiram durante a pesquisa, como a que chamamos de “ofensas nas feiras” e que foi posteriormente caracterizada (nos Encontros sobre o Trabalho) como “desvalorização da atividade humana”, problematizando o desconhecimento da população de tudo o que envolve produção de hortaliças. Tendo outros potenciais como registro das atividades de trabalho culminando na participação dos trabalhadores nas análises dos ambientes e processos de trabalho; cunho metodológico proporcionando confrontação entre vídeo, diálogos e Encontros Sobre o Trabalho e difusão do tema visando mais visibilidade para a saúde dos trabalhadores da agricultura familiar. Por fim, ousou-se dar orientações sobre o uso de recursos audiovisuais na prática de VISAT na agricultura familiar.