Avaliação da implantação das práticas de cuidado em saúde bucal na atenção primária à saúde: estudo de caso de um município na região centro leste do estado da Bahia

Abstract

O cuidado integral em saúde bucal na Atenção Primária à Saúde (APS) tem sido um desafio, uma vez que pressupõe abordagem do indivíduo em sua integralidade e como parte de um contexto familiar e social. Para tal, se faz necessário um processo de trabalho que esteja apoiado nos atributos da APS e que inclua dispositivos do cuidado que fortaleçam a coresponsabilidade individual, familiar e comunitária com a saúde. No entanto, há inúmeras dificuldades na sua implantação, com a manutenção de modelos de saúde bucal excludentes e fragmentados. O objetivo do estudo foi avaliar a implantação das práticas de cuidado em saúde bucal na APS em um município do Centro Leste do estado da Bahia. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa que incluiu aspectos do contexto interno da gestão municipal de saúde, bem como de dimensões associadas à organização e funcionamento dos serviços de saúde bucal. A análise, particularmente para aspectos do contexto interno, incluiu uma breve reconstrução histórica do período anterior a presença de serviços públicos de odontologia na cidade, até a implantação das equipes de saúde bucal na Estratégia Saúde da Família. Para essa fase foram pesquisados documentos oficias (relatórios de gestão, ata do Conselho Municipal de Saúde) e realizadas entrevistas com informantes chaves (n=6). As práticas vigentes incluíram o estudo das dimensões acesso e processo de trabalho e a análise foi feita a partir do conteúdo das entrevistas com cirurgiões dentistas que atuam nas equipes (n=03). Utilizou-se a análise temática de conteúdo para a organização e análise do material empírico transcrito. Os resultados relativos aos determinantes contextuais foram apresentados com base em dois núcleos: o do lugar da saúde bucal na política municipal de saúde e o papel da gestão da política setorial de saúde no município. Evidenciou-se que durante o período analisado, a implantação das equipes de saúde bucal na Estratégia Saúde da Família e do Centro de Especialidades Odontológicas significaram a entrada da saúde bucal na agenda do governo municipal. Entretanto, com a mudança do governo houve importantes retrocessos, como a desativação do Centro e a diminuição do número de equipes de saúde bucal. A gestão setorial é frágil, não exerce nenhum papel de ordenamento ou discussão do modelo de atenção, limitando-se a gerência dos insumos e de alguma interlocução com o gestor. A dimensão acesso mostrou que há tanto barreiras de natureza geográfica, como referentes à organização da porta de entrada. Todas as subdimensões referentes ao processo de trabalho apresentaram fragilidades, predomina ainda o modelo biomédico, com demanda espontânea,atendimento individual e procedimento-centrado. Conclui-se que a saúde bucal não se consolidou como uma agenda na política municipal de saúde; que a gestão setorial não assumiu de forma efetiva, o papel de coordenação e qualificação da rede de atenção em saúde bucal e que a consequência imediata foi a produção de um conjunto de práticas heterogêneas, desvinculadas do processo de trabalho da Estratégia e do trabalho em equipe.