Concepções e práticas alimentares e corporais de mulheres com excesso de peso

Abstract

O excesso de peso cresceu em todo o mundo nas últimas décadas. No Brasil os indicadores mostram um aumento contínuo nas prevalências de sobrepeso e obesidade atingindo quase 60 por cento da população adulta. Ao analisar a temática, a maior parte dos estudos se pauta em uma perspectiva biológica associando o problema a uma questão de balanço energético positivo, sem se atentar para outras dimensões envolvidas no processo. Neste contexto buscou-se compreender as concepções e os sentidos atribuídos às práticas alimentares, bem como os sentidos atribuídos ao corpo em um grupo de mulheres com excesso de peso. As narrativas evidenciaram transformações nas práticas alimentares marcadas pela introdução de produtos industrializados de baixo valor nutricional, principalmente ultraprocessados. Essa realidade apresenta-se marcada pela escassez de tempo, que por sua vez se liga à questão de gênero no que concerne à alimentação no âmbito doméstico. Em relação aos sentidos que se ligam ao corpo, existem diferenças e gradações na percepção do excesso de peso como um problema. Contudo, em maior ou menor grau emerge um sentimento de inadequação em relação à gordura corporal. As tentativas de emagrecimento são práticas comuns entre as informantes, não existindo diferenças entre as recomendações realizadas por especialistas quanto daquelas extraídas da mídia ou mesmo do senso comum. Chama à atenção, a abrangência do acesso à informação proveniente não somente do serviço de saúde, mas de diferentes tipos de mídias nos quais há múltiplos discursos sobre corpo e alimentação. Situação atrelada à precariedade de condições e possibilidades concretas de aquisição e consumo conformada não somente pela situação de renda nas camadas populares, mas por um ambiente obesogênico.