Complexidade e riscos no uso de agrotóxicos na agricultura: novas perguntas para velhas questões

Abstract

O uso de agrotóxicos na agricultura tem provocado conseqüências negativas para a população em geral, principalmente quando se verifica os impactos à saúde e ao meio ambiente. Dentre os agrotóxicos em uso, os organofosforados são responsáveis, nos casos de intoxicação aguda e crônica, pelo aparecimento de uma série de seqüelas neurológicas, caracterizadas por déficit motor progressivo, paralisia dos músculos flexores do pescoço, das pernas e respiratórios, além de efeitos comportamentais (insônia, ansiedade, dificuldade de raciocínio). Avaliar os riscos à saúde e ao ambiente causados pelo uso de organofosforados é uma questão relevante para a saúde pública. No entanto, fundada com base na toxicologia e na epidemiologia, a avaliação de riscos para substâncias químicas simplificou e reduziu o risco à uma dimensão única, o agente causal, isolando-a das outras dimensões e ignorando os fatores ambientais, sócioeconômicos, genéticos, hereditários e culturais, que possibilitariam a construção de um conhecimento a respeito dos riscos à saúde e ao ambiente decorrentes dessas substâncias. Esta problemática se configura como um sistema complexo, e para sua abordagem buscou-se uma perspectiva interdisciplinar e adotou o método da matriz de dados. O objetivo principal foi analisar a problemática sócio-ambiental do uso de agrotóxicos à luz da complexidade de seus impactos para a saúde e para o ambiente. Ainda buscou-se verificar novas questões nessa problemática dentro de uma formulação construtivista. A área de estudo foi o município de Brejo da Madre de Deus - PE, que se caracteriza por ser um importante produtor agrícola do Estado e por dispor de um sistema de saúde na condição de gestão plena. Os problemas foram sistematizados seguindo a categorização da reprodução social e dentre os resultados e conclusões mais significantes pode-se destacar a questão da água como estratégia para implementar ações de vigilância e para desenvolver uma consciência ecológica e sanitária na comunidade e a busca da melhoria da consciência política e a cidadania dos agricultores através de programas de capacitação voltados para os riscos decorrentes dos agrotóxicos O estudo finaliza apontando novas perguntas para velhas questões que envolvem a problemática do risco no uso de agrotóxicos e a implantação de sistemas de vigilância ambiental.