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https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/33961
DE FRENTE COM A “MORTE EM VIDA”: UMA ETNOGRAFIA DO CUIDADO MÉDICO NO CONTEXTO HOSPITALAR
Aredes, Janaína de Souza | Date Issued:
2018
Author
Advisor
Co-advisor
Comittee Member
Affilliation
Fundação Oswaldo Cruz. Instituto René Rachou. Belo Horizonte, MG, Brasil.
Abstract in Portuguese
Esta tese teve como objetivo geral investigar como os médicos na condição de sujeitos culturais - com diferentes vivências e percepções - orientam o cuidado a pacientes graves com risco de morte, no contexto do maior pronto socorro metropolitano de alta complexidade e referência na América Latina, localizado na cidade de Belo Horizonte/MG. Esta pesquisa qualitativa parte de uma abordagem antropológica hermenêutica, na qual se enfatiza o significado que os grupos sociais atribuem a determinados fenômenos, considerando-se o contexto sociocultural. O método etnográfico mediou a coleta e a análise dos dados. No
âmbito da Saúde Pública, a etnografia contribui na compreensão do processo saúde-doença, dos valores e das atitudes de profissionais e pacientes em diferentes contextos de cuidado. A coleta dos dados se deu ao longo de nove meses de observação participante e da realização de
entrevistas junto a 43 médicos que assistem pacientes com risco de morte, desde a admissão até a definição do quadro clínico-funcional ou óbito, em distintos setores da instituição. Foram entrevistados profissionais de diferentes especialidades, sendo 25 homens e 18 mulheres, com idades entre 28 e 69 anos. Os resultados dessa tese apontaram para as
especificidades da aplicação do método etnográfico no contexto de um pronto atendimento. Esta etnografia revela um cuidado submetido ao saber
biomédico, que varia segundo uma lógica específica: na Porta de Entrada, no CTI e na unidade de Crônicos. Os conceitos de Vida e Morte são balizados na prática profissional. Para o médico “vida” significa a
recuperação plena da funcionalidade prévia ou com sequelas leves, enquanto a sobrevida com alto grau de dependência seria uma “morte em vida” ou morte social. Nesse último caso, o médico, embora se compadeça diante do paciente que demanda cuidados crônicos, se esquiva de lidar com um ser humano altamente limitado, pois sente-se de algum modo responsável pelo desfecho. Quando, seguindo o modelo biomédico, o profissional não admite a morte como um desfecho possível, ele
atua de forma obstinada e se revela um “Criador” diante da
“Criatura” – o paciente que sobrevive com sequelas graves e definitivas que comprometem a sua reinserção social. Outro tipo de morte possível
é a encefálica. Nesse caso, entre a sua constatação e a sua comunicação emergem percepções ambivalentes dos médicos e dos familiares, o que evidencia uma tênue definição do que seja a vida e a morte com implicações diretas no cuidado ao paciente/potencial doador e aos familiares. Conclui-se que para os profissionais de medicina, nenhuma morte é fácil. Cada uma pode ser mais ou menos difícil, a depender de diferentes critérios que intercedem o cuidado médico em uma unidade de pronto socorro e revelam questões de ordem social, ética e moral das mais diversas. As evidentes dificuldades para lidar com a morte e suas nuances revelam lacunas na formação médica. A insuficiência de uma rede de cuidados continuados e a falta de formação paliativista e humanista do médico geram sofrimentos a quem cuida e a quem é cuidado.
Abstract
This thesis had as general objective to investigate how physicians in the condition of cultural subjects - with different experiences and perceptio
ns - guide the care to critically ill patients with risk of death, in the context of the highest metropolitan first aid of high complexity and reference in Latin America, located of the city of Belo Horizonte/MG. This qualitative research is based on a hermeneutical anthropological approach, which emphasizes the meaning that social groups attribute to certain phe
nomena, considering the sociocultural context. The ethnographic method mediated data collection and analysis. In public health area, ethnography contributes to the understanding the health-disease process, values and
attitudes of professionals and patients in different care contexts. The data collection took place during nine months of participant observation and interviews with 43 physicians who assist patients at risk of death, from admission to the definition of clinical-functional status or death, in different sectors of the institution. Professionals of different specialties were
interviewed, being 25 men and 18 women, aged between 28 and 69 years. The results of this thesis pointed out to the specificities of the application of the ethnographic method in the context of Emergency Room. This ethnography reveals a care submitted to biomedical knowledge, which varies according to a specific logic: in the Entrance Door, in the ICU and in in the sector of ‘chronic’. The concepts of Life and Death are marked in pro
fessional practice. For the doctor ‘life’ means full recovery from prior functionality or with mild sequelae, while survival with a high degree of
dependence would be a ‘death in life’. In the latter case, the physician, though he sympathizes with the patient who demands chronic care,
shies away from dealing with a highly limited human being because he feels somehow responsible for the outcome. When, by respecting the biomedical model, the professional does not admit death as a possible result, he acts obstinately and reveals himself as a "Creator" before the "Creature" - the patient who survives with severe and definitive sequels that compromise his social reinsertion. Another type of possible death is the brain death. In this
case, the ambivalent perceptions of physicians and family members emerge between confirmation and communication of this outcome, which shows a tenuous definition of life and death with direct implications for patient / potential donor care and family members. We conclude that for medical professionals, no death is easy. Each death can be more or less
difficult, depending on different criteria that measure medical care in a first aid unit and reveal social, ethical and moral issues of the most diverse. The obvious difficulties in dealing with death and its nuances reveal gaps in medical training. The insufficiency of a network of continued care and the lack of palliative and humanistic training of the physician generate suffering for those who care and those who are cared for.
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