Avaliação da exposição ocupacional ao benzeno e outros hidrocarbonetos aromáticos e a influência dos variantes dos genes CYP2E1 e EPHX1 no desenvolvimento de linfoma não Hodgkin em adultos

Abstract

A ocorrência de Linfoma não Hodgkin tem crescido nas últimas décadas e a exposição ocupacional a carcinógenos químicos e a influência de variantes genéticos de vias metabólicas tem sido alvo de investigação, a fim de identificar a suscetibilidade genética à exposição a esses agentes. Portanto, a caracterização dos riscos da exposição ocupacional pode subsidiar ações regulatórias, interdisciplinares e intersetoriais na área de Vigilância Sanitária e colaborar na pesquisa de carcinógenos. O objetivo desta investigação é avaliar a exposição ocupacional ao benzeno, reconhecidamente carcinógeno pela IARC, e de outros hidrocarbonetos aromáticos sob a influência dos variantes dos genes CYP2E1 e EPHX1 para o desenvolvimento de LNH em adultos. Trata-se de um estudo caso-controle hospitalar, realizado no período de 2013 a 2016, no Instituto Nacional do Câncer, envolvendo 145 casos de LNH e 244 controles (indivíduos sadios). A coleta de dados foi realizada através de entrevistas com questionários estruturados. Foram utilizados os títulos das ocupações e das atividades econômicas (CBO), exercidas nos últimos 20 anos laborais e, também dados autorrelatados para avaliar a exposição aos solventes orgânicos. A genotipagem das variantes genéticas (SNPs) dos genes candidatos (CYP2E1, rs2070673; EPHX1, rs2234922) foi realizada através de PCR em tempo real (Taqman®). A estimativa das medidas de associação e da interação da exposição a solventes orgânicos com os SNPs e o risco de LNH, foi realizada por regressão logística não-condicional. Resultados: Nos 145 casos de LNH, o tipo histológico mais frequente foi o de células B (LDGCB, 64; 44,1%; Linfoma folicular, 28; 19,3%; LLC/LLP/ LCM, 21; 14,5%; outros, 16; 11%). Nos grupos de comparação, os casos tiveram maior número de homens (49,7%) do que os controles (36,1%), p = 0,010 e a média de idade foi similar entre os grupos, cerca de 55 anos. A renda média familiar encontrada para os casos foi mais baixa, aproximadamente 4 salários mínimos. Observou-se que a maior frequência de fumantes de cigarros estava entre os casos de LNH (31,4%) quando comparados ao grupo controle (20,8%), p = 0,021. 38,7% dos casos de LNH e 49,1% dos controles são etilistas frequentes, com significância estatística especialmente para os casos de LDGCB (32,3%; p = 0,017). Foi encontrada baixa prevalência de doenças autoimunes dentre os casos de LNH, sendo um caso de artrite reumatoide (0,7%) e um de psoríase (0,7%). A dengue foi a doença pregressa mais autorreferida nos grupos, mas somente a diabetes apresentou diferenças estatisticamente significativas entre os casos e controles (casos: 17,1%; controles: 8,6%, p = 0,013). Aproximadamente, 24% dos casos e dos controles foram expostos ocupacionalmente ao benzeno e a outros solventes a base de hidrocarbonetos aromáticos. Nos modelos multivariados, ajustados pelas covariáveis, houve aumento da chance dos expostos possuírem os alelos variantes dos genes candidatos e ter LNH, embora sem significância estatística (SNP CYP2E1 (rs2070673), benzeno: OR = 1,26; IC 95% 0,29-5,45, p = 0,754; outros solventes a base de hidrocarbonetos aromáticos: OR 5,76; IC95% 0,63-52,84, p = 0,122; SNP EPHX1 (rs2234922), benzeno: OR = 1,79; IC95% 0,39-8,15, p = 0,455). Porém, foi encontrada forte associação da interação do SNP EPHX1 (rs2234922) e dos tabagismo para o LNH (OR = 6,09; IC95% 1,78-20,85, p = 0,018). Os resultados indicam que a suscetibilidade genética relacionado às vias metabólicas é um importante alvo a ser investigado na influência da exposição ocupacional e de outras variáveis, como o tabagismo, na etiologia do LNH.