Marcadores inflamatórios, síndrome metabólica e mortalidade entre idosos: resultados da coorte de idosos de Bambuí

Abstract

A prevalência da Síndrome Metabólica (SM), caracterizada por um conjunto de fatores de risco cardiometabólicos, tem aumentado progressivamente ao longo do tempo, sobretudo em idosos. Ademais, pouco se sabe sobre a associação entre a SM e marcadores inflamatórios, além do possível efeito da inflamação na associação entre SM, seus componentes e mortalidade geral. No presente estudo objetivou-se: (1) identificar os pontos de corte de uma ampla gama de marcadores inflamatórios (desfecho) que melhor discriminassem a ocorrência da síndrome metabólica (exposição), bem como avaliar a associação entre esses marcadores, utilizando os pontos de corte definidos, e a presença da SM; e (2) avaliar se os marcadores inflamatórios em níveis alterados modificam a associação da SM e de seus componentes com mortalidade por todas as causas nessa população. Utilizaram-se os dados da Coorte de Idosos de Bambuí, conduzida na cidade de Bambuí (MG), com 15 anos de acompanhamento. A linha de base foi estabelecida em 1997, quando todos os 1742 idosos (60 anos e mais) residentes na cidade foram convidados a participar desse projeto e 1452 possuíam todas as informações e foram incluídos no presente estudo. A SM foi definida pelo critério ATP-III e os marcadores (IL-1β, IL-6, IL-10, IL-12, TNF, CCL2, CCL5, CXCL8, CXCL9 e CXCL10, PCR) foram mensurados por técnicas apropriadas, na linha de base do estudo. A definição dos pontos de corte para cada marcador foi baseada no método Classification and Regression Tree (CART). Os modelos foram estimados pela regressão logística binária ou multinomial, para os biomarcadores categorizados em dois ou três níveis, respectivamente, estimando-se valores de Odds Ratio (OR) e respectivos intervalos de confiança (95%). Para averiguar a associação da SM e dos seus componentes com a mortalidade geral, e testar as interações com os marcadores inflamatórios, foram ajustados modelos de regressão de Cox, estimando-se os valores de Hazard Ratios (HR) e respectivos intervalos de confiança (95%), considerando os óbitos ocorridos nos 15 anos de acompanhamento. Ambas as análises foram ajustadas por potenciais variáveis de confusão, considerando a literatura pertinente. O diagnóstico da SM foi positivamente associado a maiores níveis de IL-6, CXCL10 e PCR e negativamente associado aos níveis aumentados de CCL5, CXCL8 e CXCL9, além de apresentar associação consistente com o número de marcadores alterados. Em relação à mortalidade, tanto a SM quanto valores aumentados de circunferência da cintura, glicemia e pressão arterial foram associados com maior risco de morte por todas as causas, mas apenas entre idosos com níveis aumentados de alguns marcadores inflamatórios (acima do percentil 75 para IL-1β, IL-6, IL-10 e PCR). Por outro lado, no grupo com níveis reduzidos desses marcadores, as exposições apresentaram associação negativa com mortalidade. Portanto, os resultados demonstraram associações entre SM e diversos marcadores da inflamação em níveis muito menores dos anteriormente reportados na literatura, sugerindo uma possível detecção precoce da SM a partir de pequenas alterações nos biomarcadores pesquisados. Além disso, a interação significativa entre SM e componentes e inflamação na determinação do risco de morte, demonstra o efeito sinérgico desses dois grupos de fatores na redução da sobrevida entre idosos, o que deve ser considerado na proposição de ações de saúde pública para melhoria das condições de vida dessa população.