Matriciamento em saúde mental: análise das ações e do cuidado às pessoas em sofrimento psíquico na Atenção Básica

Abstract

Os transtornos mentais afetam grande parcela da população mundial e a necessidade da integração dos cuidados em Saúde Mental (SM) nos serviços de Atenção Básica (AB) tem relevância comprovada internacionalmente. Para atender a esta demanda, alguns modelos de cuidados colaborativos têm sido desenvolvidos ao redor do mundo. O modelo implementado no Brasil é o Apoio Matricial (AM), que através da criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), em 2008, tem sido considerado como fundamental na qualificação do cuidado em saúde mental aos usuários atendidos pela Estratégia de Saúde da Família (ESF). A prevalência de sofrimento emocional na população atendida pelas equipes da ESF é alta, podendo ultrapassar 50% dos casos, mas a capacitação dos profissionais da Atenção Básica para o cuidado em saúde mental ainda é inadequada. O objetivo deste estudo foi analisar a qualificação do cuidado em SM na AB através das ações de Apoio Matricial em Saúde Mental (AM em SM). É um estudo quantitativo (corte transversal) em base de dados secundária do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), de 2012. Foram analisadas as associações entre a realização das diversas ações de matriciamento em SM (como consultas conjuntas e discussão de casos) e o desenvolvimento das estratégias de cuidado integral (como abordagem da história de vida e desenvolvimento de grupos), avaliadas no instrumento. Verificou-se que 60% das equipes realizam ações de AM em SM e que todas as estratégias de cuidado qualificadas em SM são realizadas pelo menos duas vezes mais quando estas ações estão presentes, destacando-se as ações de discussões de caso, consultas conjuntas e construção de projetos terapêuticos (PTS). Este estudo traz evidências quantitativas de que o desenvolvimento de ações compartilhadas é determinante para qualificação do cuidado em SM na AB. Contudo, este cuidado ainda é realizado de maneira insuficiente tendo em vista que o cuidado em saúde mental está presente em todas as ações de saúde e que as estratégias de cuidado em saúde mental são realizadas por no máximo 73% das equipes de ESF.