Associação entre malformações congênitas e a utilização de agrotóxicos em monoculturas no Paraná, Brasil

Abstract

O modelo de desenvolvimento adotado pelo setor agrícola faz com que haja intensa utilização de agrotóxicos no país. Grande parte destes insumos apresenta capacidade de desregulação do sistema endócrino humano, resultando em alterações nos níveis de hormônios sexuais, causando efeitos adversos, principalmente sobre o sistema reprodutivo, tais como malformações congênitas (MC). Analisar a distribuição das MC no estado do Paraná e nas unidades regionais específicas no período de 1994 a 2014. Avaliar a natureza da correlação existente entre a tendência observada e o volume de agrotóxicos tidos como disruptores endócrinos. Foi feito um estudo transversal, de caráter exploratório, descritivo e quantitativo, sobre MC ocorridas entre 1994 e 2014 com dados obtidos do Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos. Foi feita uma comparação entre o número de MC ocorridas tanto nas URs como no estado do Paraná, dividindo-se em duas partes o período mencionado: primeiro período (1994-2003) e segundo período (2004-2014). As ocorrências referentes ao primeiro período foram tidas como referência, uma vez que apresentavam um menor nível de exposição. Foram calculadas as taxas de MFC, a Odds Ratios (OR), sendo Intervalo de Confiança (IC) adotado de 95%. Houve maior taxa de MC para a UR Cascavel e para o estado do Paraná no período de 2003 a 2014. Foram encontradas associações positivas entre exposição aos agrotóxicos e MC, porém, para algumas delas, a associação não foi estatisticamente significativa. As maiores associações encontradas para o estado do Paraná foram referentes à: ‘Testículo não descido’ (OR = 6,64, IC95%= 3,85 – 11,46); ‘Malformações congênitas do aparelho circulatório’ (OR = 5,32, IC95%= 4,48 – 6,31) e ‘fenda labial e fenda palatina’ (OR = 1,62, IC95%= 1,15 - 2,30). Diversos estudos encontraram associação positiva entre estes desfechos e a exposição a agrotóxicos, o que corroboram a os achados deste estudo. Os resultados apresentados são decorrentes de um estudo exploratório o que torna importante a realização de estudos longitudinais para estabelecer a relação de causalidade. A ausência de bancos de dados informatizados sobre o consumo de agrotóxicos e o lobby exercido pelas grandes corporações, que impedem o acesso à informação, são entraves para a realização de estudos como este, que alertam para os problemas causados à saúde da população.