Produção e consumo alimentar: contribuição à segurança alimentar na comunidade quilombola de Abacatal – PA

Abstract

A alimentação e a nutrição figuram como direito humano fundamental e requisitos básicos para a promoção e proteção da saúde. No que concerne à aquisição de alimentos, geração de renda e afirmação identitária, o trabalho agroextrativista é de suma importância para as comunidades quilombolas, contribuindo assim, para a segurança alimentar e manutenção dos hábitos que compõe a cultura alimentar. Caracterizar a produção e consumo alimentar, além de compreender de que forma elas se relacionam com a saúde e a cultura das famílias residentes de uma comunidade remanescente de quilombo de Abacatal, localizada no município de Ananindeua, Pará. Estudo qualitativo, cuja coleta de dados se deu por meio de levantamento e análise documental, utilização de diário de campo e entrevistas do tipo semiestruturada, realizadas no domicílio dos entrevistados, durante os meses de junho a agosto de 2017. Foram entrevistados nove moradores homens e mulheres, entre 19 e 64 anos da comunidade quilombola de Abacatal, Ananindeua, PA. Este trabalho é um desdobramento da pesquisa de dissertação intitulada “Alimentação, saúde e cultura: um estudo das práticas alimentares em uma comunidade remanescente de quilombo da Amazônia brasileira.”. A interpretação das falas se deu pela adaptação da análise de conteúdo, em sua vertente temática. As práticas agroextrativistas garantem a manutenção e reprodução da comunidade, mas vem diminuindo por conta de fatores socioambientais, reduzindo a autossuficiência da comunidade. O almoço é a principal refeição. O padrão alimentar aponta pouca variedade de alimentos, mas expressivo consumo de frutas. Há sistema de classificação de alimentos (bons/maus/reimosos), revelando identidades/diferenciações dos indivíduos. Importância do trinômio peixe, mandioca e açaí, como alimentos básicos locais, apesar das mudanças ocorridas nos sistemas alimentares de subsistência. A aquisição de alimentos se dá principalmente pela compra, com substituição de produtos in natura por produtos industrializados. O trabalho agroextrativista é vital para a manutenção da saúde e afirmação identitária. Assim, refletimos a cultura alimentar local, como processo de permanente negociação diante das tensões advindas da introdução de padrões ditados pela ordem global de consumo. O perfil do consumo alimentar revela mudanças no sistema alimentar. Tais mudanças associadas a outros fatores podem afetar (in) diretamente as condições de vida e saúde dessa população.