Nível de conhecimento da prescrição entre pacientes atendidos na atenção primária

Abstract

O nível de conhecimento da prescrição medicamentosa pelo paciente é um dos principais fatores a ser considerado para o uso seguro de medicamentos e o tratamento livre de danos. No âmbito da atenção primária à saúde, apesar do seu reconhecimento mundial, muitos são os desafios enfrentados, dentre eles, destaca-se o financiamento insuficiente e a necessidade de aplicar os recursos de maneira consciente e efetiva. O estudo do nível de conhecimento da prescrição medicamentosa, entre pacientes atendidos na atenção primária com a identificação de grupo mais vulnerável e seus fatores associados, pode favorecer o desenvolvimento de estratégias para fomentar medidas para evitar o uso inadequado de medicamentos. E assim, prevenir complicações de condições evitáveis do quadro de saúde, além de gastos adicionais para o sistema de saúde. O objetivo desse trabalho foi estimar a prevalência do nível de conhecimento da prescrição medicamentosa entre pacientes atendidos na atenção primária e sua associação com características sociodemográficos e econômicas, condições de saúde e de capital social. Trata-se de um estudo transversal realizado com 1221 pacientes adultos (≥ 18 anos), participantes de o Projeto Prover e entrevistados após a dispensação em todos os serviços farmacêuticos em município de grande porte (234,937 inhab). Obtiveram-se dados sobre os itens: nome do medicamento, indicação terapêutica, posologia, horários de administração, duração do tratamento, efeitos adversos e precauções. Um medicamento da prescrição foi selecionado aleatoriamente. Para cada item relatado, as informações foram comparadas com a prescrição e/ou literatura. Uma medida global do conhecimento da prescrição foi construída com a soma dos itens corretos e classificada em nível insuficiente, nível regular e nível bom. Utilizou-se o modelo de regressão logística multivariado para os estudos dos fatores associados. A prevalência para o nível insuficiente foi de 30,1% (IC95%: 27,5-32,7%), nível regular 41,8% (IC95%: 39,1-44,7%) e nível bom 28,1% (IC95%: 25,6-30,7%). Constatou-se que dois terços da amostra estudada não apresentam condições de utilizar os seus medicamentos prescritos de maneira segura e livre de danos. Os itens com maior percentual de erros foram efeitos adversos (96,3%), precauções (71,1%) e indicação terapêutica (53,5%). Observou-se na população investigada, a partir da análise ajustada, maiores chances para o nível de conhecimento insuficiente entre os pacientes sem histórico de uso prévio de medicamentos prescritos nos últimos quinze dias (OR = 2,22; IC 95%: 1,31-3,76; p=0,003), portador de até duas doenças crônicas (OR = 1,36; IC: 1,04-1,77; p=0,024), escolaridade: OR = 1,50; IC 95%: 1,06-2,11; p= 0,021[0-3 anos], e OR = 1,37; IC 95%: 1,02-1,84; p=0,035 [4-7 anos] e menor capital social (OR = 1,34; IC 95%: 1,04-1,74; p=0,025). Esses resultados identificam o perfil de pacientes usuários de medicamentos prescritos que apresentam maior vulnerabilidade para a realização do seu tratamento medicamentoso. O reconhecimento desse grupo mais vulnerável por gestores e profissionais de saúde permite o planejamento e a realização de ações direcionadas para melhorar o nível de conhecimento da prescrição entre os pacientes, contribuindo para a redução de danos evitáveis, a gestão de recursos financeiros e o fortalecimento do SUS.