É preciso pensar na saúde do outro: relato de uma profissional da vigilância sanitária sobre a rotina em tempos de Covid-19

Abstract

No dia do aniversário, Aline Borges comprou um bolo pullman, desses vendidos no mercado. À noite, depois de uma exaustiva jornada de trabalho, sozinha, ligou o computador no apartamento em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro, e fez uma videochamada para falar com os filhos que tinham passado a morar com o pai, provisoriamente. Foi o mais perto que conseguiu chegar dos garotos de 14 e 16 anos, em 90 dias. Durante todo esse período, também ficou sem ver os pais idosos cuja casa está a apenas poucos metros de distância da sua. Isolada da família, ela viveu todos esses dias mergulhada em uma rotina profissional que vai desde a montagem de protocolos sanitários até a inspeção física em estabelecimentos comerciais. Médica-veterinária, Aline trabalha há 17 anos como profissional da Vigilância Sanitária e, por mais que já tenha experimentado situações limite, nunca viveu nada parecido com o momento atual.