Internações hospitalares entre idosos: o episódio da Clínica Santa Genoveva e fatores associados à ocorrência de internações em Bambuí, Minas Gerais

Abstract

Este estudo, composto por três artigos, investiga dois aspectos das internações hospitalares entre idosos, a vulnerabilidade dos idosos submetidos a internações hospitalares e os fatores associados ao aumento do risco de hospitalização de idosos que vivem na comunidade. O primeiro artigo investiga a alta mortalidade de idosos na Clínica Santa Genoveva, no Rio de Janeiro. Neste episódio, morreram 156 idosos, internados na clínica entre os meses de janeiro e maio de 1996, a maior taxa de mortalidade (143 óbitos por 1000 internações) foi registrada em maio daquele ano quando ocorreram 50 óbitos. Os dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS) foram utilizados para verificar se os óbitos ocorridos na clínica em 1996 representavam uma exceção ou refletiam condições já existentes. O período estudado foi de maio de 1993 a maio de 1996. As taxas mensais de mortalidade da clínica foram comparadas às obtidas para o conjunto de 15 hospitais definidos como referência. Os resultados obtidos mostraram que a alta mortalidade na clínica já vinha ocorrendo desde 1993 e que a utilização adequada do SIHSUS poderia ter antecipado o problema e evitado o excesso de mortalidade só identificado em meados de 1996. O segundo e o terceiro artigos, tratam da identificação de fatores associados à ocorrência de internações hospitalares entre idosos (>=60 anos) vivendo na comunidade. Nestes estudos, foram utilizados dados coletados na linha de base do “Projeto Bambuí: Estudo Prospectivo com Base Populacional sobre Envelhecimento”, que vem sendo conduzido na cidade de Bambuí, Minas Gerais. No segundo artigo, foram investigadas as associações existentes entre a ocorrência de uma e de duas ou mais internações hospitalares nos últimos doze meses e variáveis indicadoras de predisposição, facilitação e necessidade de utilização de serviços de saúde (modelo comportamental de Andersen & Newman, 1973). Associações independentes com múltiplas internações hospitalares foram verificadas com indicadores de predisposição (idade > 80 anos, sexo masculino, viver sozinho), de facilitação (problemas financeiros para aquisição de medicamentos) e de necessidade (pior percepção da própria saúde , maior número de visitas ao médico nos últimos doze meses, uso de maior número de medicamentos prescritos nos últimos 3 meses, história pregressa de doença coronariana, ter deixado de realizar atividades de rotina devido a problemas de saúde nas 2 últimas semanas, ter estado acamado nas 2 últimas semanas e não ser capaz de caminhar pelo menos 1,5Km sem se cansar). No terceiro artigo, foram estudadas as associações entre a ocorrência de internações hospitalares entre idosos e fatores biomédicos selecionados (pressão arterial, índice de massa corporal, glicemia e níveis séricos de colesterol, triglicérides e albumina). Como objetivo adicional, verificou-se se estas variáveis permaneciam associadas à ocorrência de internações hospitalares entre idosos, após ajustamento pelas características de predisposição, facilitação e de necessidade. Os resultados mostraram que apenas o Índice de Massa Corporal <20 Kg/m2 e o colesterol total > 200mg/dl apresentaram associações independentes com a ocorrência de duas ou mais internações hospitalares. Concluiu-se que a inclusão de fatores biomédicos pouco afetou as associações, previamente observadas nesta coorte, entre a ocorrência de múltiplas internações hospitalares e indicadores de predisposição facilitação e necessidade entre idosos. Estes resultados confirmam observações realizadas em países desenvolvidos que informações simples e de fácil obtenção podem ser utilizadas para identificar idosos sob maior risco de internações hospitalares. A aplicação prática em saúde pública é a possibilidade identificação de idosos sob maior risco de internações hospitalares e melhoria das suas condições de saúde, através de tratamento precoce ou preventivo.