Diversidade de moluscos terrestres e nematofauna associada em horticulturas no município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Abstract

Moluscos terrestres podem tornar-se pragas agrícolas e/ou transmitirem parasitoses, tendo papel importante em diferentes comunidades biológicas. Neste estudo avaliamos a diversidade do grupo em duas áreas de horticultura no Rio de Janeiro/RJ (nos bairros de Manguinhos e Jacarepaguá), assim como a presença de nematódeos transmissores de parasitoses associados a estes. Duas coletas foram realizadas, uma na primavera e outra no verão, com quatro pontos amostrados em cada área: bertalha (Basella alba), batata doce (Ipomoea batatas) e mandioca (Manihot esculenta), em Manguinhos e bertalha, batata doce e almeirão verde (Cichorium intibus), em Jacarepaguá. Em cada área também foi amostrado um ponto afastado dos cultivos. Os moluscos foram identificados com base em análises morfológicas e conquiológicas. Foram coletados setecentos e sessenta exemplares, sendo 522 coletados vivos e 238 apenas conchas. Desses coletados vivos, 309 foram utilizados para a análise parasitológica através de digestão artificial. O restante foi fixado e depositado na Coleção Malacológica do Instituto Oswaldo Cruz - CMIOC. Dados climatológicos (temperatura, umidade relativa do ar) e as características físicoquímicas do solo foram verificadas. Para as análises comparativas utilizamos os índices não paramétricos de Wilcoxon e Friedman, considerando os resultados significativos, aqueles com p \2264 0,05. Fizemos o uso dos indicadores de diversidade de Shannon-Wiener (H\2019), Simpson (D, 1-D), equitabilidade de Pielou (J) e similaridade de Jaccard (Sj). Foram encontradas 16 espécies classificadas em 10 famílias, sendo: Achatina fulica (Achatinidae), Bradybaena similaris (Bradybaenidae), Bulimulus tenuissimus (Bulimulidae), Habroconus semenlini (Eucolunidae), cinco espécies de subulinídeos, Allopeas gracile, Allopeas micra, Beckianum beckianum, Leptinaria unilamellata e Subulina octona (Subulinidae), Succinea meridionalis (Succineidae), duas espécies de streptaxídeos, Huttonella bicolor e Streptartemon cookeanus (Streptaxidae), Tamayoa banghaasi (Scolodontidae), Ovachlamys fulgens (Helicarionidae) e duas espécies de lesmas da família Veronicellidae, Latipes erinaceus e Sarasinula linguaeformis. Dos 522 exemplares coletados vivos, 159 foram coletados na primavera e 363 no verão (**p = 0,0011). Em Manguinhos foram coletados 231 exemplares, sendo 46 na primavera e 167 no verão (**p = 0,0020). Em Jacarepaguá, foram coletados 309 exemplares, sendo 113 na primavera e 196 no verão (*p = 0,0156). As demais análises comparativas, entre os diferentes cultivos, não apresentaram diferenças significativas. Quanto aos índices de diversidade biológica as amostras foram mais diversas no verão (H\2019 = 2,039), na área de Manguinhos (H\2019 = 1,756) e no cultivo de batata doce (H\2019 = 1,795). Apenas três espécies ocorreram em ambas as áreas (Sj = 18,75%). A temperatura média (31,1 °C) e umidade (78%) elevaram-se no verão. As análises do solo tiveram valores de dureza total e condutividade elevados em Jacarepaguá e os parâmetros de pH e alcalinidade mantiveram-se semelhantes em ambas as áreas. 174 (57%) exemplares estiveram positivos para larvas de nematódeos da superfamília Metastrongyloidea, Rhabditis sp., Strongyluris sp. e um morfotipo larval não identificado. A amostra de metastrongilídeos foi sugestiva para família Angiostrongylidae, que inclui espécies com interesse para a saúde pública e veterinária. Os resultados apresentados contribuem para o conhecimento da diversidade de moluscos terrestres encontrada em hortas urbanas da cidade do Rio de Janeiro, demonstrando a importância epidemiológica destas áreas e gerando subsídios para ações de educação em saúde e controle dos hospedeiros intermediários nestes locais, através de ações conjuntas de vários setores.