Infecção natural de cães com Leishmania infantum: correlação entre a resposta imune celular e o remodelamento da matriz extracelular esplênica

Abstract

O baço é um dos principais órgãos afetados na Leishmaniose visceral canina (LVC) e a desorganização de sua microarquitetura tem sido associada à progressão da doença. No presente estudo, demonstramos a desorganização e redução da polpa branca esplênica acompanhada pelo aumento da carga parasitária, além da redução de linfócitos T CD4+ . Além disso, verificamos alterações no miroambiente tímico, principal sítio de maturação dos linfócitos TCD4+ , de onde tem sido descrita a saída de linfócitos T imaturos e apoptose em infecções experimentais com Leishmania (L.) infantum. A redução dos linfócitos T CD4+ no baço poderia estar associada à saída precoce de linfócitos T imaturos do timo e também a um déficit migratório devido tanto às alterações do microambiente esplênico quanto à falha na capacidade responsiva aos estímulos quimiotáticos e/ou antigênicos. Assim, Analisamos a correlação entre a desorganização da microarquitetura esplênica e a capacidade de migração de células mononucleares de sangue periférico (CMSP), esplenócitos e células de linfonodo de cães naturalmente infectados com Leishmania (L.) infantum. De uma forma geral o potencial migratório celular estava preservado, onde a migração basal de esplenócitos foi maior quando comparados às células isoladas do linfonodo. Esplenócitos tiveram maior atividade migratória quando comparados aos demais órgãos na presença do antígeno de Leishmania (L.) infantum (AgLi) e na presença de CXCL13 e CCL19. Uma vez que o potencial migratório in vitro se mostrou preservado, analisamos os componentes do sistema de conduites, que são canais que transportam moléculas de pequeno peso molecular como as quimiocinas. Assim, observamos redução dos fibroblastos reticulares que revestem e mantém os conduites em animais com médio escore clínico E observamos aumento de colágeno I/III que preenchem o cerne dos canais de conduites em animais com alta carga parasitária e com polpa branca desorganizada. Hipotetisamos que com o impedimento da migração de células pelas alterações de matriz extracelular e rede de conduites, poderia haver um déficit nos processos de ativação de linfócitos T levando ao quadro de imunossupressão comumente observado nos animais com LVC. Assim, investigamos o processo de ativação celular através da imunomarcação das moléculas CD40/CD40L. Demonstramos a redução da expressão de CD40L em animais com médio escore clínico. Por fim, observamos redução da expressão da enzima óxido nítrico sintase induzida (iNOS) relacionada a desorganização da polpa branca esplênica. É possível que a desorganização da polpa branca esplênica observada nos cães naturalmente infectados seja o reflexo do comprometimento do sistema de conduites, do transporte e reconhecimento de quimiocinas e citocinas resultando em um déficit recrutamento, interação e ativação dos linfócitos e macrófagos que atuam na resposta imune mediada por células. Como consequência ocorreria falha no controle da carga parasitária que poderia contribuir para a imunossupressão e progressão da doença.