Competências da medicina de família e comunidade para a atenção integral à saúde de pessoas que vivem com HIV

Abstract

Com a descentralização da atenção integral à saúde das pessoas que vivem com HIV para a atenção primária, a Medicina de Família e Comunidade tem papel crescente no cuidado desse grupo. Tendo a residência médica como padrão-ouro de formação, a especialidade tem estruturado seu currículo a partir da educação baseada em competências, mas ainda se mostra frágil na construção de um currículo voltado ao cuidado das pessoas que vivem com HIV. A partir da Teoria das Competências de Philippe Perrenoud, este trabalho se propôs a analisar as competências da formação em Medicina de Família e Comunidade sobre a Atenção Integral à Saúde das Pessoas que Vivem com HIV na percepção das egressas e egressos de Programas de Residência da especialidade no Rio de Janeiro. Para isso, fez uso da técnica do grupo focal, em que foi discutido o tema e de onde foram identificados e interpretados os dados, complementados pela análise documental. A partir do conceito de competência de Perrenoud, foram identificadas 38 competências, sendo 11 transversais, 10 conhecimentos, 11 habilidades e 6 atitudes. Cada uma dessas competências foi então conceituada e discutida sobre seu papel para o acompanhamento da pessoa que vive com HIV na atenção primária, dando-se maior relevância a temas até então negligenciados como reconhecimento de marcadores sociais de diferença, comunicação clínica, sigilo e abordagem comunitária. Foi criada, a partir deste trabalho, uma matriz de competências da Medicina de Família e Comunidade para a Atenção Integral à Saúde de Pessoas que vivem com HIV a ser apresentada às instituições de ensino vinculadas à especialidade. Espera-se que este trabalho possa apoiar a formação de futuras médicas e médicos de família e comunidade, ajudando a orientar o modelo de educação dessa especialidade médica para um olhar ainda mais ampliado, que tensione os paradigmas hegemônicos e que combata de verdade a sorofobia.