Iniquidades no Uso de Serviços de Saúde entre Mulheres Mais Velhas (50+): Evidências do ELSI-Brasil

Abstract

No Brasil, o processo de envelhecimento populacional vem acompanhado da feminização da velhice. Apesar da universalidade ser um dos princípios fundamentais do SUS, o Brasil é extremamente marcado pelas desigualdades sociais no acesso e na utilização de serviços de saúde, sendo que indivíduos que com maior desvantagem social têm menor probabilidade de buscar e utilizar esses serviços. O objetivo do presente estudo foi avaliar a associação entre variáveis socioeconômicas mensuradas no nível individual e contextual e indicadores de uso de serviços de saúde entre mulheres mais velhas (+50), segundo a fonte de atenção à saúde. Trata-se de estudo transversal, baseado nos dados da linha de base do ELSI-Brasil, realizado em 2015-16. Os desfechos de interesse desse estudo são os indicadores de uso dos serviços de saúde: exame de Papanicolau, mamografia, dosagem de colesterol e glicemia e aferição da pressão arterial. As variáveis independentes foram os indicadores socioeconômicos, considerados no nível individual: escolaridade, cor autorreferida e renda domiciliar per capita; e o indicador de nível contextual, o Índice Brasileiro de Privação. A associação entre as variáveis independentes de nível individual e contextual e os desfechos de interesse foi analisada por meio do modelo logístico multinível. Os resultados evidenciaram que a escolaridade e a renda foram os indicadores de nível individual mais frequentemente associados aos desfechos estudados, para mulheres com e sem afiliação aos planos privados de saúde. Beneficiárias de planos privados de saúde com maior escolaridade apresentaram maior chance de realização do Papanicolau e dosagem de colesterol. Aquelas no tercil superior de renda apresentaram maior chance de realizar a dosagem de colesterol. Entre as mulheres não beneficiárias de plano de saúde, aquelas com maior escolaridade apresentaram maior chance de realização de mamografia, dosagens de glicemia e colesterol; mulheres com maior renda apresentaram maior chance de realização do exame de Papanicolau e dosagens de glicemia e colesterol. Além disso, a afiliação a plano privado de saúde mostrou associação com todos os desfechos, sendo maior a utilização dos serviços entre as participantes beneficiárias de plano de saúde. Em relação ao contexto socioeconômico, mulheres residentes em áreas de alta privação tiveram menor chance de realizar dosagem de glicemia e colesterol. Como esperado, fatores socioeconômicos individuais e contextuais associam-se ao uso dos serviços de saúde e disparidades são encontradas. A implementação de políticas públicas e ações multisetoriais que atuem nos determinantes estruturais da saúde e melhorem as condições de vida e trabalho das pessoas são estratégias fundamentais para reduzir as iniquidades em saúde, garantindo que a saúde seja, de fato, direito de todos e todas.