Efeitos oxidativos, cito- e genotóxicos de lixiviado de um lixão encerrado no estado do Rio de Janeiro em organismos aquático e terrestre

Abstract

O lixiviado de resídios sólidos é um efluente de composição complexa, capaz de contaminar solos e águas superficiais e subterrâneas, criando uma grande zona de contaminação ao redor dos lixões. Portanto, avaliações ecotoxicológicas com organismos vivos são relevantes para investigar os reais efeitos do lixiviado. O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos ecotoxicológicos do lixiviado de lixão em organismos aquático e terrestre. Para isso, foi realizada uma revisão crítica dos efeitos do lixiviado em organismos terrestres, utilizando as bases de busca Web of Science e Scopus a fim de encontrar as lacunas presentes na literatura. Além disso, peixes Danio rerio e minhocas Eisenia andei foram utilizados para a análises de biomarcadores do sistema antioxidante e, de efeito oxidativo. Por fim, foi feita a avaliação da genotoxicidade em peixes e da citotoxicidade em minhocas. Durante a revisão, foi observado o uso de 15 espécies e oito endpoints do lixiviado em organismos terrestres. Os artigos selecionados apontaram os metais como principais responsáveis pelos efeitos adveros. As amostras coletadas no lixão apresentam altos níveis de cloreto (1.885 – 4.101 mg L-1 ) e de condutividade elétrica (6.495 – 10.452 mS cm-1 ). Sete gêneros de fungos filamentosos e/ou leveduriformes foram identificados, incluindo o fungo patogênico Candida krusei. Foi determinado um fator alto (CF>6) de contaminação por metais no solo para os elementos Br, Se e I. A exposição de Danio rerio ao lixiviado modulou o sistema antioxidante do fígado, aumentando os níveis de SOD (37 %), CAT (67 %), GST (39 %) e GSH (57 %) em 50 % de lixiviado, e no cérebro com a redução de GST (42 %) e de GSH (90 %) na mesma concentração. No sangue, houve o aumento do dano ao DNA. As análises mostraram que o sistema antioxidante não foi capaz de impedir o acúmulo de espécies reativas de oxigênio (EROs), levando a carbonilação de proteínas (PTC). Em minhocas, o lixiviado gerou efeito de fuga em concentrações até 50 % e atração acima de 50 %. A citotoxicidde foi observada com a redução da densidade e viabilidade celular. O lixiviado aumentou os níveis de SOD (6 %), CAT (35 %), GST (70 %), GSH (37 %) e MT (67 %). Não foram observados efeitos oxidativos, mostrando que o sistema antioxidante combateu o acúmulo de EROs. De forma inédita, foi realizada uma avaliação ecotoxicológica do lixiviado em organismos aquático e terrestre, utilizando endpoints de cito- e genotoxicidade, e avaliação no sistema antioxidante. Contudo, devido a lacuna ainda presente na literatura sobre os efeitos subletais do lixiviado em organismos aquáticos e terrestes, e diante dos resultados cito- e genotóxicos, e alterações no sistema antioxidante, presente trabalho sugere que novos estudos sejam feitos para que os efeitos do lixiviado em organismos vivos sejam completamente entendidos.