Influenza B em diferentes regiões brasileiras (2010-2018): epidemiologia molecular, dinâmica evolutiva e implicações para a vigilância em saúde e imunoprevenção

Abstract

As infecções pelos vírus influenza apresentam alta morbimortalidade e impacto socioeconômico. A variabilidade genética decorrente de mutações cumulativas e frequente rearranjo gênico ocasiona a circulação de populações virais geneticamente distintas, contribuindo para o padrão epidemiológico, patogenicidade e resistência aos antivirais. Os vírus influenza B pertencem à família Orthomyxoviridae, gênero Betainfluenzavirus e no início da década de 80 foi observada a divergência desses vírus em duas linhagens antigenicamente distintas, B/Victoria/2/87 e B/Yamagata/16/88, que cocirculam globalmente. Essas linhagens apresentam fraca reatividade cruzada. A principal estratégia para o controle/ prevenção de casos graves e óbitos causados pelos vírus influenza é a vacinação. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda o uso da vacina trivalente, composta por duas cepas de influenza A e uma cepa de influenza B, elencadas, anualmente, pela Organização Mundial da Saúde. Assim, a proteção contra os vírus circulantes baseia-se na predição correta do protótipo vacinal. Neste estudo foram observados os aspectos demográficos e clínicos das infecções causadas pelas linhagens do vírus influenza B/Victoria e B/ Yamagata. Logo após, foram avaliados os dados sobre incompatibilidades entre as linhagens do vírus influenza B circulantes e as cepas que compõe a vacina influenza, bem como o perfil de circulação viral nas diferentes regiões geográficas brasileira. Ao longo de 2010-2020, as linhagens B/Victoria e B/Yamagata cocircularam em quase todas as epidemias sazonais, com predominância B/Victoria na maioria dos anos. As incompatibilidades vacinais entre vírus circulantes e as cepas de vacinas trivalentes ocorreram em cinco das onze estações. Não foram identificadas diferenças significativas na apresentação clínica ou gravidade da doença causada por ambas as cepas, mas os indivíduos infectados por vírus semelhantes a B/Victoria foram significativamente mais jovens do que seus pares semelhantes a B/Yamagata. Na etapa seguinte, foi avaliado o Sistema de Liberação de Lotes de vacinas influenza para o setor público e mercado privado. Também foi relatado casos de vacina influenza sob suspeita encaminhados ao INCQS para auxiliar na investigação analítica. Este estudo contribuiu para melhor compreender os padrões de circulação e os desfechos clínicos das linhagens semelhantes a B/Victoria e B/Yamagata no Brasil e defender a inclusão da vacina influenza quadrivalente no âmbito do Programa Nacional de Imunizações. Além disso, foi evidenciado a importância de garantir a qualidade, segurança e eficácia das vacinas disponibilizadas, tanto pelo setor público quanto segmento privado, para uso pela população brasileira