Vida após o trauma no trânsito: perfil das vítimas, internações e fatores associados às incapacidades

Abstract

Objetivos: caracterizar vítimas de acidentes de trânsito (AT) internadas em leitos clínicos de hospital de trauma e analisar os fatores associados às incapacidades na alta hospitalar. Método: Trata-se de um estudo seccional, realizado com vítimas de AT internadas nas clínicas ortopédica, neurológica e de cuidados intermediários do hospital de trauma de Teresina, PI. Na primeira etapa, foram coletadas as variáveis sociodemográficas, relacionadas ao acidente, ao trauma e à internação (variáveis explicativas). Na segunda etapa, foram coletados dados sobre incapacidade (variável resposta), pelo instrumento World Health Organization Disabilty Assessment Schedule 2.0, versão de 12 itens. Utilizou-se na análise de dados medidas descritivas, teste de Qui-quadrado de Pearson e teste de Fisher, regressão linear simples e múltipla para modelagem dos dados. Resultado: na primeira etapa foram entrevistados 225 pacientes, com média de idade de 37,2 anos, predomínio do sexo masculino, de escolaridade de 10 a 12 anos. Houve associação entre a ingestão de bebida alcoólica antes do acidente e a ocorrência de AT nos finais de semana, no turno noite e o não uso de equipamento de segurança. Motocicleta (88,4%) foi o principal meio de locomoção. No setor de neurologia, houve a prevalência de diagnósticos de traumatismo cranioencefálico e trauma facial. No setor de ortopedia, 95,8% dos pacientes necessitaram de procedimentos cirúrgicosortopédicos Todos os entrevistados do setor de cuidados intermediários necessitaram de leitos de terapia intensiva (UTI) e de tratamento cirúrgico. Na segunda etapa, foram entrevistados 186 pacientes, as áreas de lesão corporal prevalentes foram cabeça/pescoço (57,5%), face (47,3%) e extremidades inferiores (31,2%). Os fatores associados à incapacidade na alta hospitalar foram tempo internação em UTI, complicações durante a internação, lesões na área da cabeça/pescoço e fratura de extremidade inferior. Conclusão: O perfil das vítimas internadas por lesões no trânsito foi de indivíduos do sexo masculino que adotaram comportamento de risco na condução de motocicleta. A internação do politrauma suscita uma complexa articulação de serviços intra-hospitalar. O padrão das lesões e análise dos fatores associados à incapacidade foneceram informações sobre a necessidade de reabilitação pós alta hospitalar. As lesões por AT acionam a integração entre as redes de atenção à saúde de atendimento pré-hospitalar, hospitalar e reabilitação.