Velhas e novas vulnerabilizações enfrentadas pelos trabalhadores-migrantes da cana

Abstract

Apesar do avanço da colheita mecânica nos canaviais brasileiros decorrente da intensificação tecnológica, as empresas canavieiras continuam a contratar sazonalmente trabalhadores-migrantes para a realização do trabalho manual na cana- de-açúcar. Esses trabalhadores têm sido foco de várias pesquisas, cujos resultados vêm demonstrando que a modernização da agricultura brasileira não melhorou as condições de vida e de trabalho desse grupo. Esta tese tem como objetivo analisar as vulnerabilizações que afetam os trabalhadores-migrantes do sertão pernambucano e paraibano diante da intensificação do processo da mecanização nos canaviais paulistas e bahianos. Foi realizado um estudo qualitativo do tipo etnográfico. Para a coleta de dados utilizou-se da pesquisa bibliográfica do tipo revisão narrativa, seguida pela análise de dados secundários da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), União da Indústria de Cana de açúcar (UNICA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e Prefeituras Municipais. Além da observação participante e entrevistas semiestruturadas com os trabalhadores-migrantes, funcionários da usina do setor de recursos humanos, médico do trabalho e presidente da associação no território de origem dos trabalhadores. Para análise dos dados utilizou-se a análise temática ancorada na abordagem teórico- metodológica da Reprodução Social da Saúde. Verificou-se que os territórios de destino dos trabalhadores-migrantes são marcados pelos impactos ambientais do agronegócio canavieiro que atualmente vem sendo agravado com o desmonte das políticas públicas. Enquanto que os territórios de origem são caracterizados pela dificuldade no acesso à educação, trabalho e renda. Enquanto que os territórios de origem são caracterizados pela dificuldade no acesso à educação, trabalho e renda. Os trabalhadores que laboram na Usina A relatam o desempenho de múltiplas funções nos canaviais, o trabalho no plantio por equipe, pagamento por produção e a introdução da biometria digital. Na usina B, os trabalhadores identificam piores condições de trabalho devido a irrigação do plantio, irregularidade dos terrenos, presença de pedras e a exposição às queimadas. Entre os espaços de sociabilidade identificou-se a pega de boi no mato, bares e a festa da mandioca. Destacou-se como espaços de sociabilidades nos referidos territórios de destinos os churrascos, visitas aos bares e casas de forró no estado de São Paulo, além de visitas ao shopping e à ilha do rodeadoro na microrregião de Juazeiro, BA. Por fim, foram apresentados os processos de vulnerabilização, como o retorno da exposição a fuligem da cana queimada, a potencialização dos acidentes, o uso de agrotóxicos, distúrbios hidroeletrolíticos, problemas cardiovasculares decorrentes do esforço nos canaviais, sofrimento psíquico e experiências com situações de preconceitos. Além do enfrentamento da covid-19 nos espaços de moradia e de trabalho. Foi possível concluir com o estudo que o setor canavieiro vem reproduzindo velhos e produzindo novos processos de vulnerabilização que afetam a saúde do trabalhador-migrante.