Please use this identifier to cite or link to this item:
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/62361
AUTODETERMINAÇÃO SEXUAL E REPRODUTIVA DE MULHERES
Gontijo, Flávia Gontijo de | Date Issued:
2023
Author
Advisor
Comittee Member
Affilliation
Fundação Oswaldo Cruz. Instituto René Rachou. Belo Horizonte, MG, Brasil.
Abstract in Portuguese
O aborto é uma questão de saúde pública e figura como uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil. Sua criminalização gera problemas de saúde, potencializa desigualdades e dificulta o acesso ao sistema de saúde devido aos aspectos legais, morais, sociais, religiosos e culturais. Estima-se que uma em cada cinco mulheres aos 40 anos já realizou ao menos um aborto no país, mulheres de diferentes crenças, classes sociais e cores. A restrição do aborto não reduz a realização do mesmo e acaba por expor as mulheres a morbidades e óbitos evitáveis. No Brasil, a criminalização do aborto ratifica um sistema que aumenta situações de vulnerabilidade social, provoca complicações hospitalares e busca tardia por atendimento. O objetivo do estudo foi analisar a atuação de um programa de planejamento familiar na garantia dos direitos sexuais e reprodutivos na perspectiva das mulheres atendidas e de que forma situações de vulnerabilidade e a intersecção entre marcadores sociais como classe, raça e cor constituem a decisão pelo método contraceptivo. Trata-se de estudo qualitativo e fenomenológico, no qual o trabalho de campo foi realizado no período de fevereiro a abril de 2023, da qual a coleta de dados foi realizada em entrevistas com 13 mulheres que foram atendidas no programa de planejamento familiar analisado. Coletou-se dados por meio do diário de campo e questionário sociodemográfico. Para análise e interpretação dos dados foi realizada a leitura exaustiva e integral das transcrições repetidas vezes. Como método analítico foi utilizada a análise temática que possibilitou a compreensão das experiências das participantes por meio da interpretação dos dados. As entrevistadas são 13 mulheres pardas, com baixa escolaridade, fizeram uso de múltiplos métodos contraceptivos, com idade média de vinte anos na primeira gestação e tiveram, em média, três gestações. Pontos comuns surgiram durante as entrevistas, como a solidão das mulheres diante as decisões reprodutivas, a maternidade compulsória e políticas públicas que reforçam e reproduzem as desigualdades de gênero. A maternidade no contexto social apresentado é fator de empobrecimento e limita o acesso das mulheres ao mercado de trabalho e a recursos econômicos, junto a marcadores sociais como classe, gênero, raça e religião, faz com que essas mulheres vivenciem seus direitos sexuais e reprodutivos em piores condições. O discurso religioso é uma variável que produz o apagamento da mulher das políticas públicas e a menor valia de seu corpo, que é reduzido ao biológico. Destaca-se a necessidade da urgência da descriminalização e legalização do aborto e que o mesmo, seja pensado no campo da saúde pública e que essas sejam reconhecidas como sujeito de direitos.
Abstract
Abortion is a public health issue and is one of the main causes of maternal mortality in Brazil. Its criminalization generates health problems, increases inequalities and hinders access to the health system due to legal, moral, social, religious and cultural aspects. It is estimated that one in five women at the age of 40 has had at least one abortion in the country, women of different beliefs, social classes and colors. Restricting abortion does not reduce abortion and ends up exposing women to avoidable morbidities and deaths. In Brazil, the criminalization of abortion ratifies a system that increases situations of social vulnerability, causes hospital complications and late search for care. The objective of this study was to analyze the role of a family planning program in guaranteeing sexual and reproductive rights from the perspective of the women served and how situations of vulnerability and the intersection between social markers such as class, race and color constitute the decision for the contraceptive method. This is a qualitative and phenomenological study, in which the fieldwork was carried out from February to April 2023, from which data collection was carried out in interviews with 13 women who were assisted in the family planning program analyzed. Data were collected through a field diary and a sociodemographic questionnaire. For data analysis and interpretation, the transcripts were read exhaustively and repeatedly. As an analytical method, thematic analysis was used, which enabled the understanding of the participants' experiences through the interpretation of the data. The interviewees are 13 brown women, with low schooling, who used multiple contraceptive methods, with an average age of twenty years in the first pregnancy and had, on average, three pregnancies. Common points emerged during the interviews, such as women's loneliness when facing reproductive decisions, compulsory motherhood, and public policies that reinforce and reproduce gender inequalities. Motherhood in the social context presented is a factor of impoverishment and limits women's access to the labor market and economic resources, together with social markers such as class, gender, race and religion, making these women experience their sexual and reproductive rights in worse conditions. Religious discourse is a variable that produces the erasure of women from public policies and the lower value of their bodies, which are reduced to the biological. It highlights the urgent need for the decriminalization and legalization of abortion and that it be thought of in the field of public health and that these are recognized as subjects of rights.
Share