Estudo dos casos de abandono do tratamento para tuberculose, sua distribuição espacial e seus determinantes socioeconômicos na Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro nos anos de 2009 a 2013

Abstract

A tuberculose é um grave problema de saúde na cidade do Rio de Janeiro. A Zona Sul da cidade é uma região de grandes contrastes sociais, onde bairros com ótimos indicadores sociais são vizinhos de bolsões de pobreza. Esse estudo pretende responder se as condições socioeconômicas são determinantes para o abandono do tratamento da tuberculose nesta região. O objetivo foi estudar a distribuição espacial dos casos de abandono do tratamento para tuberculose em relação às condições socioeconômicas, nos diferentes setores censitários da Zona Sul da cidade, no período de 2009 a 2013. Para tal, foi realizado um estudo espacial ecológico, com georrefenciamento dos casos novos e dos casos de abandono, utilizando-se a base de dados do SINAN. Foram analisadas variáveis sóciodemográficas e clínicas. Para a avaliação das condições socioeconômicas, foi utilizado o Índice de Desenvolvimento Social (IDS), baseado em variáveis do Censo/2010, por setores censitários. A expansão da ESF foi apresentada sob a forma de mapas com o território de cobertura ano a ano. Os mapas com os valores do IDS por setor censitário, foram comparados ao georreferenciamento dos casos de abandono. Para verificar a presença de autocorrelação espacial entre os casos de abandono e o IDS, foi empregado o Índice de Moran Global Bivariado e o Índice de Moran Local (LISA). Encontramos 3.396 casos novos e 316 abandonos, com predomínio de adultos jovens, do sexo masculino e da foma clínica pulmonar. As variáveis relacionadas ao abandono foram sexo masculino, alcoolismo, coinfecção TB/HIV e AIDS. O TDO não influenciou o desfecho abandono de forma estatisticamente significativa. O número de equipes da ESF passou de 10 para 53 nos cinco anos de estudo. Nesse período, houve queda na taxa de abandono de 11,4% em 2009 para 6,8% em 2013 Quanto à análise espacial, o georreferenciamento dos casos novos mostrou zonas quentes em áreas que se repetiram ao longo dos anos, especialmente nos aglomerados subnormais. Os abandonos seguem o mesmo perfil, com destaque para as comunidades da Rocinha e Vidigal. O Índice de Moran Global Bivariado - Taxa de Abandono versus IDS apontou uma autocorrelação espacial negativa, alta taxa de abandono com baixo IDS. O LISA Bivariado apontou a existência de clusteres com significância estatística entre taxa de abandono e IDS, com o predomínio de áreas com baixa taxa de abandono e IDS acima da média. Esses resultados confirmam a associação do abandono com precárias condições socioeconômicas, apontando áreas prioritárias para intervenção. A expansão da ESF não foi suficiente para o controle da tuberculose na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.