Incidência do primeiro episódio de sífilis e seus fatores associados em uma coorte de pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) na cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 2000 e 2017

Abstract

Introdução: A sífilis vem reemergindo como problema de saúde pública em nível mundial, principalmente entre pessoas vivendo com HIV (PVHIV). Objetivos: Esse estudo visou estimar a incidência do primeiro episódio de sífilis de 2000 a 2017 em uma coorte de PVHIV e identificar seus fatores associados. Métodos: Trata-se de análise retrospectiva de uma coorte de PVHIV do Rio de Janeiro, Brasil. Considerou-se sífilis prevalente se houvesse teste treponêmico positivo, VDRL ≥1:8 ou história de tratamento na entrada. Para a análise da incidência, foram incluídos participantes com pelo menos um exame no seguimento. Considerouse caso incidente se teste treponêmico reagente e/ou VDRL ≥1:8, bem como registro de tratamento para sífilis. Foram calculadas as proporções de casos de sífilis prevalente e incidente. Os fatores associados a sífilis incidente foram investigados utilizando análise de regressão proporcional de Cox. As análises foram realizadas no software estatístico R, versão 3.6.1. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do INI. Resultados: Dos 6.909 participantes incluídos entre 2000-2017, 5.180 possuíam exame para sífilis na entrada, dos quais 25,4% tinham sífilis prevalente, e 775 foram excluídos por não ter exame para sífilis no seguimento. Entre 3.090 participantes avaliados no seguimento, a taxa de incidência foi de 27,8 casos/1.000 pessoas-ano (IC95% 24,2-32,0). Os HSH apresentaram incidência mais de 2 vezes maior do primeiro episódio de sífilis quando comparados aos não-HSH independentemente da carga viral do HIV (HR 2,70, IC95% 1,70-4,35, p<0.001 entre pacientes com CV detectável e HR 2,97, IC95% 2,21-4,00, p< 0.001 entre pacientes com CV indetectável). A incidência do primeiro episódio de sífilis aumentou nos períodos mais recentes, 2,4 e 7 vezes maior nos dois últimos períodos, respectivamente. Conclusão: A incidência de sífilis na coorte foi elevada, com predomínio em HSH e aumento nos dois últimos períodos de tempo. Recomenda-se maior frequência de rastreamento entre os HSH a fim de detecção e tratamento precoces e redução da transmissão.