Distúrbios quimiossensoriais quantitativos na COVID-19: anosmia e hiposmia - possíveis mecanismos fisiopatológicos e interferências com o trabalho. Uma Overview

Abstract

Desde janeiro de 2020 pode-se testemunhar a crescente proliferação do novo Coronavírus, um dos maiores desafios e reveses da humanidade. As alterações neurológicas, notadamente, os distúrbios quimiossensoriais, são identificados como de alta prevalência no contexto desta pandemia, a curto e longo prazo. Atualmente, ainda se faz necessária uma revisão abrangente do mecanismo neural subjacente à tal disfunção. Objetivos: Caracterizar a apresentação clínica, os mecanismos fisiopatológicos dos distúrbios olfativo-gustativos associados à COVID-19 e, sua interferência em atividades laborais para lançar luz sobre sua patogênese e orientar profissionais de saúde em seu manejo e efeitos na saúde física e mental. Métodos: Foi realizada uma Overview de revisões sistemáticas, de acordo com o handbook de execução de revisões sistemáticas da Colaboração Cochrane e as diretrizes do PRISMA. Uma busca abrangente foi efetuada nas principais bases de dados, além de busca manual, pesquisa de citações dos artigos incluídos e Grey Literature, entre maio de 2021 e maio de 2022. A avaliação do risco de viés foi elaborada com base na ferramenta ROBIS e a avaliação da certeza da evidência foi realizada através da ferramenta GRADE narrativo. A análise estatística não foi aplicável. Foi também realizado um Ensaio Acadêmico sobre a saúde do trabalhador, com vistas a abordar a relevância do grave impacto destes efeitos à saúde, possíveis afastamentos e implicações legais no universo laboral Resultados: De um total de 1959 artigos selecionados, 689 foram recuperados e 41 avaliados por elegibilidade. Após triagem dos textos completos, 14 foram considerados elegíveis para o estudo. Os desenhos de estudo, em sua maioria, foram observacionais. Dentre os desfechos evidenciados, os mais prevalentes são a disfunção neurossensorial; a disfunção condutiva e a teoria inflamatória. Discussão: Nesta overview foram discutidos os desfechos encontrados e sua importância, bem como os achados histopatológicos e de imagem que corroboram a fisiopatologia, para melhor compreensão da neuropatogênese. Pôde-se identificar limitações do estudo, em razão da potencial baixa qualidade metodológica e muito baixa certeza da evidência das revisões em virtude do alto risco de viés, grave evidência indireta e presença de viés de publicação, devidamente contextualizados. Conclusões: A magnitude observada da perda relatada de olfato e paladar entre os pacientes sugere que esses sintomas são marcadores importantes da doença, possibilitando a implementação precoce de medidas de isolamento e vigilância. É imperiosa a informação dos pacientes, e, notadamente, os trabalhadores, sobre a possível natureza prolongada desta condição configurando um dos sintomas da chamada "COVID longa". Do ponto de vista fisiopatológico, ainda evidenciam-se lacunas na elucidação das vias envolvidas na perda do olfato pelo SARS-CoV-2, entretanto, reitera-se que os efeitos a longo prazo desse vírus no sistema nervoso devem ser uma prioridade de pesquisa para referências futuras.