Caracterização molecular e suscetibilidade antifúngica de leveduras incomuns da ordem Saccharomycetales: uma série de casos de infecções de corrente sanguínea em pacientes com câncer

Abstract

A fungemia é uma doença infecciosa grave, e pode se associar a choque séptico, falência múltipla de órgãos e elevada mortalidade. A doença é definida quando ocorre o isolamento de fungo, como Candida spp. e outras leveduras a partir de hemoculturas de pacientes. Nos últimos anos, espécies incomuns da ordem Saccharomycetales têm sido isoladas em pacientes com câncer. Pouco se sabe sobre estas leveduras emergentes, em especial no estado do Rio de Janeiro. O objetivo deste estudo é avaliar a suscetibilidade aos antifúngicos de espécies emergentes da ordem Saccharomycetales causadoras de fungemia em pacientes com câncer. Para isso foram incluídas cepas de leveduras incomuns pertencentes a ordem Saccharomycetales isoladas de hemoculturas de pacientes atendidos no Instituto Nacional do Câncer no período de 2002-2017 e excluídas aquelas identificadas fenotipicamente como Candida albicans, Candida tropicalis, Candida krusei, Candida glabrata ou Candida parapsilosis. As espécies emergentes foram identificadas através da técnica de “barcoding” de DNA com a amplificação da região ITS1- 5.8S-ITS2 do rDNA ou da região D1/D2, quando necessário. A nomenclatura das leveduras identificadas foi atualizada conforme o banco de dados do NCBI. A suscetibilidade aos fármacos antifúngicos foi realizada de acordo com o protocolo padrão de microdiluição em caldo preconizado pelo BrCAST, e comparada com a técnica de difusão de gradiente em fitas (Etest®) e com método automatizado (VITEK® 2). Esses resultados foram correlacionados com dados clínicos dos pacientes e com aspectos fenotípicos das cepas que pudessem estar associados com virulência ou resistência aos antifúngicos, tais como produção de enzimas hidrolíticas. Espécies do complexo Meyerozyma guilliermondii e Wickerhamomyces anomalus foram as leveduras mais frequentes. Fluconazol apresentou pouca atividade antifúngica contra as cepas testadas, com concentrações inibitórias mínimas elevadas para o complexo M. guilliermondii, W. anomalus e Candida haemulonii var. vulnera. A anfotericina B foi capaz de inibir 100% do crescimento de 96,42% das cepas, em concentrações de 0,032 - 1µg/mL, demonstrando ser o fármaco com melhor ação terapêutica in vitro. Foi verificado associação entre as CIMs de leveduras, de caspofungina e micafungina com a produção de hemolisina. Pacientes que necessitaram de cuidados intensivos tiveram 27 vezes mais chance de óbito em comparação com aqueles que não necessitaram de UTI. Os resultados contribuem para o conhecimento sobre leveduras emergentes em pacientes com câncer, bem como para o entendimento de possíveis resistências dessas leveduras aos fármacos antifúngicos e suas consequências para os pacientes infectados