“O nome do vírus é HIV não é LGBT”: vulnerabilidade masculina na atenção em saúde de homens gays, bissexuais e trans na Cidade do Recife, Pernambuco

Abstract

Essa tese tem como objetivo geral analisar aspectos relacionados à vulnerabilidade masculina entre pessoas com identidade de gênero masculina e profissionais de saúde que atuam na atenção básica na Cidade do Recife, Pernambuco. Como objetivos específicos, pretendemos: 1) Apreender os repertórios sobre masculinidades produzidos por pessoas com identidade de gênero masculina e profissionais que atuam na atenção básica; 2) Identificar aspectos associados às condições de saúde e elementos de vulnerabilidade para pessoas com identidade de gênero masculina, nas narrativas de homens GBT e de profissionais que atuam na atenção básica; 3) Analisar como repertórios de/e sobre a saúde de homens gays, bissexuais e trans podem se atualizar no cotidiano do atendimento a homens gays/bi/trans no serviço de saúde.. Tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa, descritiva e exploratória. Participaram do estudo homens, autoreferidos como gays, bissexuais e transexuais, usuários dos serviços de saúde (N =40) e profissionais de saúde (médico, enfermeiro, odontólogo e agentes comunitários de saúde) da Estratégia Saúde da Família (N=60). Como recurso metodológico, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os profissionais de saúde e grupos focais com os homens GBT usuários dos serviços, divididos de acordo com os seguimentos populacionais (gays, bissexuais e homens trans). As falas geradas nesta pesquisa são aqui consideradas produções dialógicas, cuja análise foi realizada a partir de técnicas empregadas na análise de práticas discursivas, em abordagem construcionista social. As partir das análises emergiram quatro categorias analíticas, são elas: 1) Sentidos de masculinidade e o “jeito de gay”; 2) Condições de saúde de homens GBT; 3) Atendimento: do geral ao particular e 4) Vulnerabilidade de homens GBT. Os resultados sinalizam que os estigmas associados a homens gays, bissexuais e transexuais em consonância com as construções de masculinidade (re)produzidos pelos/as profissionais são percebidos pelos usuários, que consideram tais valores, crenças e desconhecimentos como interferências diretas nas práticas de cuidado, bem como dificultar a busca destes pelos serviços de saúde. Ao assumir uma visão reducionista quanto a saúde dessas pessoas produz-se uma visão limitada das vulnerabilidades masculinas, ponto importante a ser trabalhado entre gestores/as, profissionais e pesquisadores/as para que os mecanismos de enfrentamento da LGBTfobia sejam efetivos e, assim, o cuidado integral não seja restrito no âmbito do SUS, assim como é preconizado na Política de Saúde Integral da População LGBT.