Agentes Populares de Saúde do Campo: o protagonismo popular em territórios da reforma agrária no decorrer da pandemia do novo coronavírus

Abstract

A pandemia do novo coronavírus surge em um momento de crise estrutural do capitalismo em nível mundial, produzindo fortes impactos econômicos, sociais e ambientais, explicitando ainda mais as contradições capitalistas e seus projetos de disputa. O descaso do governo federal, a falta de liderança e de estratégias para conter o avanço do vírus, fez com que, no mês de março de 2020, surgissem várias ações de solidariedade em muitos locais do país. Em Pernambuco, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), junto com instituições como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-PE), deram início ao curso de formação de Agentes Populares de Saúde (APS) e, em seguida, a formação de Agentes Populares de Saúde do Campo (APSC). Essa formação vem ocorrendo nos assentamentos e acampamentos do MST, contribuindo na difusão de informações baseadas na ciência, além de proporcionar soluções coletivas de proteção, cuidado, organização popular e luta por direitos nesses territórios. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo analisar o processo de formação dos APSC, realizada pelo MST no estado de Pernambuco. Foram utilizados para a coleta de dados os seguintes métodos: análise documental e entrevistas semiestruturadas, tanto com lideranças do MST que atuaram na estruturação e organização do curso como com os APSC em atuação nos territórios. Os dados coletados foram analisados por meio da técnica de análise do discurso. Os resultados estão divididos em quatro seções analíticas, nas quais se discutem: a caracterização geral dos sujeitos entrevistados e uma descrição da Campanha Mãos Solidárias; a importância da formação em saúde das populações do campo em Pernambuco, trazendo categorias pré-definidas (tempos educativos e as subcategorias tempo escola, tempo comunidade e a mística; a referência na educação popular; a formação política e ideológica); o papel e os desafios futuros do MST em relação à formação dos APSC; e a sistematização do primeiro encontro estadual dos APSC de Pernambuco. Concluímos este estudo, afirmando a importância de traçar um caminho que fomente a formação, no sentido amplo da palavra, e a atuação nos territórios com práticas de cuidados diversas, que contribuam para o avanço rumo à verdadeira emancipação do povo do campo.