Atenção à sífilis gestacional: cenário epidemiológico em João Pessoa e perspectivas para prevenção da sífilis congênita

Abstract

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), sistêmica, curável e exclusiva do ser humano. É de notificação compulsória e tem se apresentado como problema de saúde pública global dada sua crescente incidência. Para a redução da sífilis gestacional e controle da sífilis congênita, a Atenção Primária em Saúde (APS) assume posição estratégica e compreender suas fragilidades é crucial para implementação de práticas efetivas no manejo dessas doenças. Considerando a relevância da sífilis gestacional e da sífilis congênita para a saúde pública, objetivou-se neste estudo analisar a atenção à sífilis gestacional na Atenção Primária de João Pessoa, com ênfase no binômio mãe-bebê. Foram utilizadas 1.036 notificações de sífilis gestacional e 790 de sífilis congênita contidas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de 2015 a 2020; e 106 respostas do questionário aos profissionais médicos e enfermeiros atuantes na APS. Sobre a sífilis em gestantes, a média de idade das mulheres foi de 24 anos, na maioria dos casos sem ensino fundamental, não brancas, notificadas por hospitais ou maternidades, no terceiro trimestre de gravidez, com classificação clínica primária, teste treponêmico e não treponêmico reagentes, tratadas com Benzilpenicilina e parceiro não tratado simultaneamente. Quanto à sífilis congênita, a maior parte dos casos foram de mães que não realizaram pré-natal, sem ensino fundamental, não brancas, que receberam diagnóstico de sífilis materna no momento do parto/curetagem, todas com tratamento inadequado ou não realizado. Nas crianças, 82,41% apresentaram sífilis recente como diagnóstico final e mais de 60% foram tratadas com Penicilina. Quanto à evolução dos casos de sífilis congênita, 76,20% correspondem a nascidos vivos, enquanto 15,96% são referentes a abortamentos espontâneos ou natimortos. Já os resultados dos questionários mostraram que as unidades de saúde apresentam com muita frequência estrutura adequada, disponibiliza muito frequentemente preservativos, teste rápido e penicilina. Em sua maioria os profissionais relatam utilizar com muita frequência Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT), realizam notificação da sífilis gestacional, teste rápido e administração da Benzilpenicilina na primeira consulta do pré-natal. As principais dificuldades identificadas por eles são a desistência ao tratamento das gestantes e parceiro e a deficiência do apoio laboratorial. O cenário da sífilis gestacional em João Pessoa suscita esforços para identificação de nós críticos na rede de atenção em saúde que interferem na qualidade do pré-natal na APS.