Vigilância para Chikungunya em uma população pediátrica na Bahia

Abstract

Introdução: A doença Chikungunya, causada pelo Chikungunya vírus (CHIKV), caracteriza-se por uma síndrome febril aguda com artralgia frequente e evolução para manifestações musculoesqueléticas crônicas em 15-86% dos casos. Pouco se sabe sobre a infecção nas crianças e adolescentes. Objetivo(s): Pretendemos compreender as características e a dinâmica da infecção por CHIKV em uma população pediátrica em situações epidêmicas e não epidêmicas. Material e Métodos: Trata-se de um sub-estudo de coorte aninhado ao ensaio clínico fase III da vacina da Dengue do Instituto Butantan-DEN-03-IB, realizado em crianças e adolescentes no município de Simões Filho, Bahia. Visitas médicas periódicas foram realizadas com coleta de dados clínicos e de amostra de sangue para dosagem de anticorpos IgG anti-CHIKV por ELISA. As amostras foram colhidas em dois momentos: início (T1) e tempo final do companhamento (T2) do sub-estudo. Adicionalmente, em casos de febre, foi realizado uma coleta para detecção de CHIKV por RT-PCR. Resultados e Conclusão: Foram incluídos 348 voluntários, 52% do sexo feminino, com 5 anos de idade (intervalo interquartil- IQR-3-10). No T1, 22 das 348 (6.32%) foram positivos para IgG anti-Chikungunya. A mediana de idade dos positivos foi maior que a dos negativos (7.5 vs 5 anos; p=0.02). Os 325 voluntários que testaram negativo foram acompanhados para exposição a CHIKV (T2). No T2, após 24 (IQR- 21 - 30) meses, foi observado 16% de positividade para CHIKV (52 pacientes, sendo 25 positivos no RT-PCR e 27 apenas no ELISA). Entre os positivos no T2, 48% eram do sexo feminino, com mediana de idade de 10 (IQR: 3-12) anos. Entre os 27 casos que positivaram apenas na sorologia, 22 (81%) reportaram, em pelo menos uma ocasião, sintoma compatível com arbovirose e 5 (18%) foram assintomáticos. 23 dos 25 positivos no RT-PCR foram seguidos por 24 (IQR=22-25) meses após a infecção aguda: 3 (5,8%) desenvolveram artropatia crônica e 1 (1,9 %) sub-aguda (16 dias duração). Quanto a distribuição dos casos no município, a região com maior prevalência de CHIKV foi a norte, com 11/41 (26,8%) participantes positivos, seguindo da sul (38/163, 23,3% positivos), leste (1/81, 2,5% positivo) e oeste (2/39, 5,1% positivos). Houve frequência elevada de Chikungunya entre os participantes em Simões Filho: cerca de um quarto nas regiões norte e sul do município foram infectados, a maioria sintomática. Embora com baixa frequência, artropatia crônica foi registrada na população pediátrica.