Antes da proibição: quando a maconha era remédio (1870-1936)

Abstract

A maconha é uma planta utilizada milenarmente em variados contextos e práticas de cura ao redor do mundo, no Brasil ela foi amplamente utilizada pela medicina acadêmica e pela terapêutica popular. O objetivo deste estudo é explorar áreas pouco estudadas da história no que diz respeito ao conhecimento e prática da medicina e farmacologia relacionadas ao uso medicinal da Cannabis. Esse conhecimento e prática difere dos usos “sociais”, religiosos e nas práticas populares de cura. O período pesquisado foi de 1870 até 1936, esta escolha ocorreu devido à difusão do uso medicinal e desenvolvimento de estudos sobre os efeitos da planta, seu potencial terapêutico e a ascensão das políticas proibicionistas de controle de drogas. Fomos em busca de obras médicas e farmacêuticas que tratavam dos usos da maconha, nossos achados de pesquisa centram-se majoritariamente nos periódicos médicos, revistas, jornais, farmacopeias e dicionários. Este conjunto de fontes foi analisado por meio da revisão historiográfica e da leitura crítica a contrapelo a partir da perspectiva da História das Ciências. No primeiro capítulo realizamos um diálogo com a história das drogas e apresentamos os marcos históricos e legais. Já na segunda seção apresentamos a ideia de proibicionismo e os variados contextos de uso da maconha. Por fim, no último capítulo apresentamos o conjunto de fontes e por meio dele mostramos como a maconha era investigada e utilizada. Estes aspectos serviram para evidenciar uma história não contada sobre a maconha, a de seus usos médicos e da sua coexistência com usos não-médicos. Nas farmácias eram variados os produtos à base de maconha que podiam ser adquiridos mediante prescrição médica, paralelamente, a medicina desvendou seus efeitos e princípios ativos. Tudo isso aconteceu em um cenário profundamente marcado pelo racismo e de gestação e ascensão de ideias proibicionistas, elementos que influenciaram na proibição dos usos da maconha.