Integralidade da atenção à saúde da mulher com câncer de mama: uma análise da rede de oncologia em Pernambuco

Abstract

O câncer de mama possui alta incidência e mortalidade entre as mulheres, sendo a principal causa de morte por câncer na população feminina. Abordar as lacunas no enfretamento do câncer de mama é uma prioridade urgente para promover diagnóstico precoce, melhorar sobrevida, equidade no cuidado e garantir sustentabilidade ao Sistema Único de Saúde. O estudo buscou analisar a integralidade da atenção à saúde da mulher com câncer de mama, na rede de atenção oncológica no estado de Pernambuco. Foi adotada uma abordagem mista sequencial explanatória, com etapas quantitativa e qualitativa. A etapa quantitativa consistiu em estudo transversal, analisando dados de consultas e procedimentos relacionados ao câncer de mama realizados de janeiro a dezembro de 2019 a 2021. E uma análise descritiva da distribuição dos serviços disponíveis para rastreamento, diagnóstico e tratamento na rede de atenção à Saúde de Pernambuco, em 2022. A fase qualitativa exploratória incluiu entrevistas semiestruturadas com usuárias, profissionais de saúde dos serviços de oncologia e atenção primária à saúde, e gestores. Os resultados revelaram uma redução significativa nos procedimentos de rastreamento e diagnóstico e tratamento cirúrgico durante a pandemia da covid-19. A análise descritiva dos serviços identificou disparidades regionais na distribuição de equipamentos e estabelecimentos de saúde, com alta concentração na Macrorregião I – Metropolitana. Os fluxos assistenciais apontaram que, não se trata apenas de implantar novos equipamentos e serviços de oncologia, mas (re)organizar o acesso ao já existentes. Os resultados quantitativos corroboram com os achados qualitativos, as narrativas das usuárias, profissionais e gestores evidenciaram que a falta de integração entre os níveis assistenciais, serviços de diagnósticos insuficientes, têm gerado impactos negativos à vida das mulheres. A maioria custeia os exames de diagnóstico, com o objetivo de dar celeridade no acesso ao tratamento. As usuárias do interior têm optado por fazer tratamento na Macrorregião I devido à garantia de um cuidado integrado e integral. A não implementação da Linha de Cuidado do Câncer de Mama tem contribuído para a descontinuidade do cuidado nos diferentes pontos da rede, uma vez que não há protocolos e fluxos assistenciais estabelecidos, a forma que a rede de saúde está organizada tem gerado barreiras adicionais às usuárias, que navegam sozinhas, além das barreiras geográficas, destacam-se as econômicas e sociais. O estudo apontou desafios à garantia da integralidade do cuidado na dimensão biopsicossociais e identificou que as necessidades individuais das usuárias muitas vezes são negligenciadas. A fé e o apoio social emergiram como elementos fundamentais no enfrentamento da doença. Diante dos resultados, recomenda-se a implementação da Linha de Cuidado Câncer Mama para a garantia da integralidade do cuidado, criação dos protocolos e fluxos assistenciais, para reduzir as iniquidades assistenciais e promover o bem-estar global das mulheres. Destaca-se a necessidade de monitorar, avaliar a estrutura, acesso e acessibilidade nos hospitais de referência oncológica, principalmente das Macrorregiões 2 (Agreste), 3 (Sertão), e 4 (Vale do São Francisco e Sertão do Araripe). Recomenda-se aos gestores de saúde, considerar a telessaúde como importante estratégia de apoio para redução gastos com Tratamentos Fora do Domicílio, e o acesso às atividades que podem ser ofertadas remotamente, especialmente das populações historicamente excluídas, contribuindo para a melhoria do cuidado integral à mulher com câncer de mama.