As relações trabalho-saúde em atividades controladas por plataformas digitais: uma revisão integrativa

Abstract

Neste estudo partimos da concepção de que os processos saúde-doença estão vinculados às relações de produção e reprodução social. A investigação teve como foco trabalhadores(as) subordinados(as) a empresas plataformas digitais, dada a degradação das relações e condições de trabalho e da falta de proteção social deste grupo. O objetivo do estudo foi analisar as relações trabalho-saúde em atividades controladas por empresas-plataforma no Brasil a partir da produção científica sobre o tema. Para tanto, realizamos uma revisão integrativa da literatura para identificar, sistematizar e analisar os estudos pertinentes, a partir das bases de dados BVS, SciELO e LILACS. Limitamos a busca a artigos publicados até 2022, sendo selecionados 23 estudos de diversas áreas do conhecimento. O material foi agrupado segundo categorias relevantes com base em conceitos e princípios do campo da Saúde do Trabalhador. Os resultados apontam ampla heterogeneidade de categorias profissionais em diversas atividades do setor de serviços. A análise das relações de trabalho e da proteção social evidencia a desregulamentação dos direitos trabalhistas e a desproteção social. A narrativa de “empreendedorismo”, a dispersão do trabalho e centralização do controle e o gerenciamento algorítmico se destacam na organização e condições de trabalho. Evidenciamos uma diferença importante entre trabalhadores(as) de microtarefas e youtubers (web-based) e os de transporte e entrega (location-based). Predominam no primeiro grupo os problemas emocionais, como estresse, ansiedade, medo, angústia e burnout No segundo, ficam mais evidentes o desgaste físico, os acidentes, a violência, os problemas de coluna e a covid-19. Entre as estratégias de resistência destacam-se redes de sociabilidade e paralisações nacionais, que reivindicam condições mais justas e maior transparência nas regras do trabalho. Em conjunto, os estudos apontam intensificação do trabalho, falta de autonomia e baixa remuneração associados à instabilidade e à falta de vínculo empregatício, que impactam a saúde dos(as) trabalhadores(as). Observou-se maior aceitação das regras impostas pelas empresas no grupo com maior dependência financeira em relação a estas, evidenciando a precarização a que os(as) trabalhadores(as) estão expostos(as), submetendo-se, constantemente, a riscos de acidentes, inclusive fatais, e ao adoecimento físico e mental. O trabalho subordinado a plataformas digitais reflete contradições do capitalismo, cujo enfrentamento implica construir e fortalecer espaços de articulação política vinculados à defesa da saúde do trabalhador e do trabalho decente.