Please use this identifier to cite or link to this item:
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/65951
O BOLSONARISMO, A CATEGORIA MÉDICA E A POLÍTICA DE SAÚDE NO CONTEXTO DA CRISE DE HEGEMONIA CONTEMPORÂNEA
Medeiros, Henrique Gonçalves Dantas de. | Date Issued:
2024
Comittee Member
Affilliation
Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Aggeu Magalhães. Recife, PE, Brasil.
Abstract in Portuguese
O objetivo geral deste trabalho é compreender as relações entre o bolsonarismo e a categoria médica e seus reflexos na política de saúde no contexto da crise de hegemonia contemporânea. Os objetivos específicos são: compreender a natureza da vinculação da categoria médica com o bolsonarismo; descrever as relações da categoria médica e suas entidades com o governo Bolsonaro; e analisar os reflexos do bolsonarismo sobre a política de saúde, em especial no enfrentamento à pandemia da Covid-19, no provimento médico, na atenção à saúde indígena, na saúde mental, na saúde da mulher e nos direitos sexuais e reprodutivos. A pesquisa se localiza no quadro referencial marxista, absorvendo e reposicionando nele os quatro componentes do modelo de análise de políticas públicas de Walt e Gilson - Contexto, Processo, Conteúdo e Atores, utilizando os métodos de procedimento histórico e monográfico, numa abordagem qualitativa, de caráter descritivo e exploratório. Para coleta de dados, utilizaram-se as técnicas de Documentação Indireta (pesquisas documental e bibliográfica) e Observação Direta Intensiva. Para a análise, utilizou-se a Condensação de Significado e a Hermenêutica-Dialética. Demonstrou-se que o Brasil vivencia uma crise de hegemonia ou orgânica (já que se entrelaça a uma crise econômica) dificultando sua superação e o restabelecimento da hegemonia de uma das classes ou frações de classe no seio do bloco no poder. O bolsonarismo, resultado de tal crise, foi definido como um movimento político neofascista cuja base social reside na alta classe média, comportando uma ideologia cujos elementos mais marcantes são: o antipetismo/anticomunismo, o militarismo/armamentismo e o culto à violência, o neoliberalismo, o discurso antipolítica e antissistema, o conservadorismo moral, a homofobia, o fundamentalismo cristão, o antifeminismo e a misoginia, o racismo, o anti-indigenismo, o antiambientalismo, o antiglobalismo e o negacionismo científico. O governo Bolsonaro buscou restabelecer a hegemonia do grande capital financeiro internacional e da burguesia brasileira a ele associada, que cooptou esse movimento neofascista. Através das publicações das principais entidades, descreveu-se a vinculação de parcela expressiva da categoria médica a esse movimento no contexto de radicalização reacionária após 2013: o surgimento, a partir da corrente neoliberal, de uma corrente neofascista no movimento médico, caracterizada pelo aprofundamento de ideologia liberal e por uma práxis política extremamente ideologizada. Também se descreveram as relações da corporação com o governo Bolsonaro na condição classe-apoio, servindo como anteparo ao mesmo durante a pandemia de Covid-19. Esta, todavia, foi determinante para uma clivagem na categoria e um errático processo de desafetação diante do negacionismo científico na sua condução. Demonstrou-se, ainda, como o desmonte das políticas de provimento médico, saúde indígena, saúde mental, saúde da mulher e direitos sexuais e reprodutivos, respaldado por entidades médicas, refletiu elementos do universo ideológico bolsonarista: anticomunismo, anti-indigenismo, conservadorismo moral, fundamentalismo cristão e antifeminismo.
Abstract
The main goal of this study is to comprehend the relationships between Bolsonarism and the medical profession and its impacts on health policy within the context of the contemporary hegemonic crisis. Specific objectives include: understand the nature of the connections between the medical profession with Bolsonarism; describe the relations between the medical profession and its entities with the Bolsonaro government; and analyzing the repercussions of Bolsonarism on health policy, particularly in addressing the Covid-19 pandemic, medical provision, indigenous health care, mental health, women's health, and sexual and reproductive rights. The research is situated within the Marxist theoretical framework, absorbing and repositioning within it the four components of Walt and Gilson's policy analysis model - Context, Process, Content, and Actors, utilizing historical and monographic procedural methods in a qualitative, descriptive, and exploratory approach. Data collection employed techniques of Indirect Documentation (documentary and bibliographic research) and Intensive Unsystematic Direct Observation, participant, individual, and real-life. For analysis, Meaning Condensation and Dialectical Hermeneutics were employed. It is demonstrated that Brazil is experiencing a crisis of hegemony, or an organic crisis (as it intertwines with an economic crisis), hindering its overcoming and the re-establishment of the hegemony of one of the classes or class fractions within the ruling bloc. Bolsonarism, as a result of such crisis, was defined as a neo-fascist political movement whose social base lies in the upper middle class, embodying an ideology whose most striking elements include: anticommunism, militarism/armamentism, and cult of violence, neoliberalism, anti-politics and anti-system discourse, moral conservatism, homophobia, Christian fundamentalism, anti-feminism and misogyny, racism, anti-indigenous sentiment, anti-environmentalism, anti-globalism, and scientific denialism. The Bolsonaro government sought to restore the hegemony of international big finance capital and associated Brazilian bourgeoisie, which co-opted this neo-fascist movement. The significant involvement of a portion of the medical profession in the neo-fascist movement in the context of reactionary radicalization after 2013 was described based on the publications of major entities. The emergence of a neo-fascist current in the medical movement was demonstrated. It is characterized by the radicalization of liberal ideology and extremely ideologized political praxis. Also described were the profession's relations with the Bolsonaro government as a supporting class fraction, acting as a shield during the Covid-19 pandemic, which, however, was decisive for a cleavage in the profession and an erratic process of disaffection in the face of scientific denialism in its management. It was also demonstrated how the dismantling of medical provision policies, indigenous health, mental health, women's health, and sexual and reproductive rights, supported by various medical entities, reflected elements of the Bolsonarist ideological universe: anti-communism, anti-indigenous sentiment, moral conservatism, Christian fundamentalism, and anti-feminism. Finally, ongoing challenges are pointed out even with the electoral defeat of Bolsonarism.
Share