Avaliação da dinâmica de coinfecção e superinfecção pelos arbovírus Chikungunya e Mayaro em uma população de Aedes aegypti de laboratório

Abstract

A emergência e reemergência de arbovírus são eventos associados a graves crises na saúde pública, muitas vezes caracterizadas pela presença simultânea de diferentes patógenos em uma mesma região, como o ocorrido no Brasil durante a tríplice epidemia de Dengue (DENV), Zika (ZIKV) e Chikungunya (CHIKV) em 2015-2016. Dentro desse atual panorama de cocirculação arboviral, o vírus Mayaro (MAYV) tem sido apontado como um potencial emergente no ambiente urbano devido a fatores como a notificação de casos de infecções por MAYV nessas regiões, junto com a ampla circulação de potenciais vetores e a presença de hospedeiros suscetíveis. Assim, a consequência da entrada de um novo vírus, como MAYV, no ambiente urbano brasileiro pode gerar um cenário epidemiológico preocupante, especialmente devido à subnotificação de seus casos de infecções por MAYV, decorrente da semelhança clínica com o CHIKV. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar a dinâmica de coinfecção (infecção do mosquito por mais de um vírus em um mesmo repasto sanguíneo) e superinfecção (infecção do mosquito por mais de um vírus em sucessivos repastos sanguíneos) por CHIKV e MAYV em Aedes aegypti de laboratório. Para isso, foram conduzidos experimentos de coinfecção envolvendo MAYV e CHIKV, bem como experimentos de superinfecção, tanto por MAYV quanto por CHIKV, por meio de infecções orais em mosquitos. As taxas de infecção (TI), disseminação (TD) e transmissão (TT) de ambos os vírus foram determinadas por RT-qPCR a partir da coleta e subsequente extração de RNA das amostras individuais de intestino, carcaça e saliva. Adicionalmente, a presença dos vírus na progênie das fêmeas infectadas oralmente nos ensaios de coinfecção e superinfecção também foi avaliada por RT-qPCR. O principal resultado do trabalho mostrou que CHIKV e MAYV podem ser transmitidos simultaneamente por Ae. aegypti em cenários de coinfecção, enquanto que em situações de superinfecção tanto por MAYV quanto por CHIKV, uma primeira infecção afeta a capacidade de transmissão do vírus adquirido posteriormente, evidenciando a ocorrência de interferência de replicação entre os vírus. Em relação à análise de transmissão vertical, não foram encontradas amostras positivas em nenhum dos grupos testados. Tais constatações têm implicações importantes para o planejamento de ações de saúde pública no país, enfatizando cenários complexos de cocirculação de arbovírus e os riscos epidemiológicos associados.