Violência Contra a Mulher por Parceiro Íntimo: conhecimentos e condutas do cirurgião-dentista da estratégia saúde da família

Abstract

A violência por parceiro íntimo (VPI) é a forma de violência mais prevalente contra as mulheres, estando frequentemente associada a desfechos fatais. A Atenção Primária à Saúde (APS) configura-se como porta de entrada para os casos de VPI. O cirurgião-dentista da Estratégia Saúde da Família (ESF) ocupa uma posição privilegiada para o diagnóstico da violência contra a mulher por parceiro íntimo. Assim, o presente estudo teve como objetivo investigar os conhecimentos e as condutas dos cirurgiões-dentistas da ESF do município de Fortaleza, CE frente à mulher em situação de VPI. Este é um estudo com abordagem quantitativa, do tipo analítico observacional e com delineamento transversal, do qual participaram 172 profissionais, realizado nas Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) desse município e também virtualmente, através do Google Forms. A coleta de dados ocorreu entre janeiro e maio de 2022. O instrumento utilizado foi um questionário autoaplicável (físico ou virtual) contendo questões objetivas e subjetivas. Os dados coletados foram tabulados em planilhas eletrônicas do Microsoft Office Excel, versão 2019 e analisados no software estatístico IBM SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 26.0. Foi realizada a análise descritiva do perfil sociodemográfico dos participantes da pesquisa e das variáveis relativas aos conhecimentos e condutas dos cirurgiões-dentistas da ESF de Fortaleza, CE frente à violência contra a mulher por parceiro íntimo. O teste qui-quadrado de Pearson foi utilizado para testar correlações entre as variáveis sociodemográficas da amostra pesquisada e as condutas dos cirurgiões-dentistas frente a casos de violência contra a mulher por parceiro íntimo. Em todas as análises, foi adotado um intervalo de confiança de 95% e nível de significância de 5%. Os dados revelaram que cerca de 87% dos cirurgiões-dentistas avaliados desconhecem a Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/ Autoprovocada e a mesma proporção ignora a obrigatoriedade da notificação dos casos de violência contra a mulher por parceiro íntimo. Além disso, aproximadamente 80% desses profissionais desconhecem as redes de apoio à mulher vítima de VPI. Nesse contexto, 94,8% dos participantes do estudo reportaram não ter sido preparados na graduação para atuar frente a esse fenômeno e 92,4% deles relataram não ter sido treinados acerca dessa temática. Finalmente, foi identificada a existência de correlação entre a variáveis faixa etária, tempo de graduação, tempo de trabalho na ESF e vínculo empregatício na ESF e as condutas dos cirurgiões-dentistas frente à violência contra a mulher por parceiro íntimo. Concluiu-se que os resultados obtidos demonstraram desconhecimento dos cirurgiões-dentistas da ESF do município de Fortaleza, CE sobre o conceito de violência contra a mulher por parceiro íntimo, a sua responsabilidade profissional, fluxos e condutas frente a este tipo de violência. Esses achados sugerem a necessidade de formação e capacitação dos cirurgiões-dentistas da ESF na condução de episódios de violência contra a mulher por parceiro íntimo, podendo contribuir também com a revisão dos fluxos existentes no âmbito da VPI, a fim de torná-los mais efetivos e resolutivos.