Paternidade e Autismos: a participação dos homens no cuidado dos seus filhos sob as perspectivas de gênero e das masculinidade

Abstract

A paternidade representa um momento importante, que produz mudanças e significados definitivos na construção da identidade e na vida de um homem. Quando ele consegue se envolver ativamente no desempenho da função paterna, contribui para os questionamentos quanto à divisão de responsabilidades e ao compartilhamento dos cuidados dos filhos com a mulher, pondo à prova a rígida definição de papéis sociais, forjados pelo modelo patriarcal ao longo dos tempos. Os estudos de gênero e das masculinidades têm trazido contribuições valiosas para a compreensão desta questão. O Transtorno do Espectro Autista ou autismos, de modo geral, é uma condição atípica, classificada como uma síndrome neuropsiquiátrica, integrante do grupo dos transtornos globais do desenvolvimento, que apresenta manifestações comportamentais acompanhadas por déficits na comunicação e interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades. Este estudo, orientado pela abordagem qualitativa, teve o objetivo de compreender a construção da identidade paterna e a participação nos cuidados de seus filhos pelos homens que são pais de crianças com autismo. Pretendeu-se compreender como os marcadores sociais de gênero reproduzidos por estes homens repercutiam no relacionamento, nas responsabilidades e nos cuidados desempenhados por eles com seus filhos e ainda nas condições de vida e saúde. Empregou-se gênero como categoria central de análise, à luz das teorias pós-feministas e dos estudos sobre as masculinidades. Foram realizadas diferentes fases, utilizando as seguintes estratégias: seleção e análise de 23 vídeos de acesso livre e gratuito no YouTube, realizado em setembro de 2022; entrevistas semiestruturadas com 32 homens, residentes em Minas Gerais, em abril e maio de 2023 e discussão em grupos focais virtuais, em setembro e outubro de 2023. Utilizou-se a análise de conteúdo temática, em todas as fases para construir as categorias analíticas. Foram elaborados três artigos, abordando parcelas dos resultados da pesquisa em cada um deles e estes constam do corpo desta tese. Concluiu-se que os homens que têm filhos com autismo significaram positivamente a paternidade e demonstraram engajamento e ação em direção a se tornarem pais participativos e responsáveis. Ao se depararem com as exigências de cuidados dos filhos, eles passaram por um processo de aprendizagem em várias dimensões do cotidiano. Eles poderiam ser inseridos no que foi nomeada paternidade híbrida, pois grande parte deles vivenciavam a paternidade com a fluidez de papéis e eram capazes de questionar a rigidez dos estereótipos do gênero masculino. Ao priorizar os filhos, eles vivenciaram repercussões em várias dimensões, quando abdicavam significativamente dos cuidados de si e da própria saúde.