Envelhecimento das travestis e mulheres trans no Brasil : uma revisão de escopo

Abstract

Esta dissertação tem como objetivo analisar as especificidades das experiências de envelhecimento das travestis e mulheres trans no contexto brasileiro, conforme retratadas nas produções acadêmicas tanto nacionais quanto internacionais. A hipótese deste trabalho é a de que não há muitos estudos produzidos em contexto nacional sobre o tema, o que reflete a invisibilidade do fenômeno do envelhecimento desta população. Os objetivos específicos propostos são: mapear os trabalhos sobre o tema no contexto brasileiro produzidos em âmbito acadêmico nacional e internacional; conhecer as contribuições das pesquisas sobre o tema; e identificar e apresentar as principais teorias de gênero mobilizadas nesses estudos. A população no Brasil está crescendo. Isso, associado às mudanças sociais, como reconhecimento social crescente para a população LGBTQI+ e a garantia de direitos em saúde e segurança, pode ocasionar uma diversificação e reconhecimento das demandas da população idosa no país em termos de gênero e orientação sexual. Em relação às travestis e às mulheres trans, abordar o tema do envelhecimento e conhecer as particularidades deste processo para elas torna-se relevante uma vez que muitas ainda convivem com uma realidade caracterizada pela vulnerabilização social. Além disso, ao analisar as revisões produzidas sobre o tema, identificaram-se lacunas e controvérsias. Dentre estas, destacam-se o reduzido número de trabalhos de revisão relacionados ao envelhecimento de travestis e mulheres trans no contexto brasileiro e a pouca sistematização na busca empreendida na maioria destes. Foi realizada uma pesquisa básica, qualitativa, do tipo exploratória e bibliográfica, por meio de revisão de escopo sobre o tema, com estudos selecionados nas principais bases de dados que reúnem, principalmente, pesquisas em Saúde Coletiva Foram selecionados 48 trabalhos. Observou-se um aumento irregular na produção acadêmica sobre o tema no Brasil, que iniciou em 2004, e teve picos de produção em 2015 e 2017. Além disso, verificou-se uma concentração dos trabalhos nas Ciências Sociais e Humanas, com predomínio do desenvolvimento de metodologias qualitativas. O tipo de publicação mais comum foram os artigos, seguidos de dissertações, teses e livros. Dos 48 trabalhos analisados, 18 não explicitaram as teorias de gênero com as quais seus estudos dialogavam. Dos 27 restantes, predominou o uso da teoria queer, alinhando-se a estudos anteriores sobre envelhecimento LGBT. Houve uma lacuna na aplicação das teorias de gênero em áreas como trabalho e saúde. Recentemente, houve um foco na construção social dos corpos, sendo gradativamente incluído o termo “cisgeneridade” nos trabalhos. Verificou-se que as definições de identidade de gênero entre travestis e mulheres trans variam significativamente, apesar de maior consenso nos movimentos sociais e acadêmicos. As questões de envelhecimento das travestis e mulheres trans foram frequentemente correlacionadas às desigualdades estruturais no país. É recorrente nos trabalhos analisados a consideração de que, embora as questões de envelhecimento não sejam fundamentalmente diferentes das de outras populações, as travestis e mulheres trans enfrentam vulnerabilidades específicas que agravam seus problemas de saúde e qualidade de vida. Neste sentido, as especificidades em saúde, trabalho e os impactos da violência foram relacionados à vulnerabilização desta população e foram explorados no escopo analisado nesta dissertação.