Planejamento da testagem à COVID-19 no estado do Amazonas

Abstract

No Brasil, o Estado do Amazonas se tornou o epicentro da sindemia de COVID-19, situação agravada por diversos fatores como o descaso do governo, desigualdade socioeconômica da população e áreas de difícil acesso. Epidemias recentes como Ebola e Zika destacaram os desafios de implementação de medidas de controle de saúde pública de forma rápida. No caso da COVID-19, as principais respostas dos sistemas de saúde são as medidas de prevenção e controle para a redução do risco da contaminação, principalmente através da detecção precoce dos casos e seu isolamento. Sabendo da importância dos testes de diagnósticos como medida preventiva e dos determinantes sociais em saúde (DSS’s) como fator predisponente à infecção da COVID-19, o objetivo desse estudo foi avaliar o planejamento da política de testagem no Estado do Amazonas no ano de 2020. Trata-se de um estudo de caso qualitativo. Foi realizada análise documental a partir de documentos oficiais emitidos pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-AM) e Fundação de Vigilância Sanitária (FVS-AM) entre janeiro e novembro de 2020. Além disso, foram realizadas entrevistas entre fevereiro e maio de 2021, a partir de roteiro semiestruturado, com atores chaves que participaram do planejamento da testagem no Amazonas. Para a seleção dos entrevistados, utilizou-se a técnica de bola de neve. A análise dos dados se deu através de categorias presentes no REFLEX-ISS, um instrumento desenhado para avaliar como as desigualdades sociais em saúde (DSS) foram consideradas na elaboração de intervenções de saúde. No Estado do Amazonas, a testagem se deu de forma imediata através da criação de cinco centros de testagem rápida (CTR’s). Devido à quantidade limitada de testes, a intervenção foi voltada a algumas categorias de profissionais que permaneceram trabalhando durante o período de quarentena e distanciamento social, baseando-se no critério de vulnerabilidade de exposição ao SARS-CoV-2. Houve contradição entre os entrevistados quanto à utilização de dados científicos que orientassem a intervenção. De modo geral, os DSS’s não foram considerados no planejamento e os CTR’s foram implementados de forma centralizada, não considerando a facilidade do acesso daqueles que moram em áreas periféricas. Notou-se a escassez de mão-de-obra sendo necessário a utilização do voluntariado. As conclusões demonstram que os gestores e planejadores de políticas de saúde necessitam conhecer sobre a importância de considerar as desigualdades e os DSS no planejamento dessas intervenções para se conceder uma política equânime.