Crianças expostas ao Zika Vírus durante o período intrauterino: sobrevida da coorte de Manaus após a epidemia

Abstract

Introdução: O vírus Zika causou impactos significativos durante a epidemia no Brasil, especialmente nas crianças que foram expostas a infecção viral intrauterina durante a gestação materna em Manaus, Amazonas. É conhecido que o vírus pode causar alterações disruptivas no cérebro fetal, resultando na Síndrome Congênita associada ao ZIKV. No entanto, ainda não há estudos que investiguem a sobrevida dessas crianças expostas e as características associadas a essa condição sete anos após a epidemia, tampouco que descrevam o estado de saúde atual delas. Objetivos: Descrever as condições de sobrevida das crianças expostas ao Zika vírus durante o período intrauterino na coorte de Manaus/AM. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo observacional, onde a população base são as crianças expostas intraútero ao ZIKV e que foram atendidas pelo hospital de referência durante a epidemia em Manaus. Os dados foram coletados a partir da base de dados das gestantes expostas que fizeram parte da coorte Manaus durante a epidemia. Além disso, foi realizada uma busca ativa dessa população, onde, após contato prévio e aceite, as participantes foram visitadas individualmente em seus domicílios para consentimento de entrevistas e avaliação das crianças. Ademais, outra fonte de investigação utilizada nesse estudo foi o SIM. Através desse sistema, foram identificados os membros da coorte original que vieram a óbito ao longo destes anos, desde a exposição ao vírus. As informações coletadas foram analisadas estatisticamente utilizando o software R studio. Resultados: Este estudo analisou a sobrevida de 42 crianças expostas ao vírus Zika durante a gestação em Manaus. A maioria, 88,1% chegaram ao sétimo ano de vida, enquanto 11,9% foram a óbito. A sobrevida das crianças está associada estatisticamente à baixa escolaridade materna e ao Apgar ao 5º minuto inferior ao considerado ideal. Dos 5 óbitos, 3 ocorreram ao nascimento ou logo após, e 2 foram devido a aborto de causa desconhecida. As 37 crianças sobreviventes são filhos de mães com mais de 30 anos (51,3%), com escolaridade básica completa, de raça/cor parda (74,6%), com residência própria (64,8%), com média de 3 moradores por domicílio (29,7%) e renda familiar de 1,5 a 2 salários-mínimos (35%). Embora a maioria tenha boa saúde geral, algumas apresentam sinais sugestivos de TEA (42,5%) e TDAH (51%), além de alterações nutricionais e osteomusculares. Conclusão: A exposição ao vírus Zika durante o período intrauterino pode causar desfechos desfavoráveis para as crianças expostas, inclusive o óbito, que está diretamente relacionado com o perfil social materno e a vitalidade ao nascimento. É necessário o desenvolvimento de estudos com populações maiores para corroborar a causalidade desses fatores na sobrevida das crianças, com o objetivo de fornecer conhecimentos para lidar com futuras epidemias.