Soroprevalência de Bartonella em pacientes falcêmicos e nos doadores dos hemocomponentes utilizados por eles em um Hemocentro no estado do Rio de Janeiro

Abstract

Introdução: A doença falciforme (DF), uma doença congênita, mas não infecciosa, com alta mortalidade infantil, é considerada pela ONU um dos maiores problemas de saúde pública mundial na atualidade. Por necessitar de frequente hemotransfusão o risco de transmissão de patógenos via transfusão de hemocomponente é um desafio constante, considerando a importância do surgimento e ressurgimento de agentes infecciosos, especialmente os zoonóticos, que não constam na Portaria de Consolidação GM/MS nº 5 de 28 de setembro de 2017, do Ministério da Saúde. Entre estes agentes, destaque para o grupo de proteobactérias do gênero Bartonella passíveis de serem transmitidas via transfusão de hemocomponente, torna os portadores de DF alvo possível dessa contaminação. Objetivos: Detectar a presença de infecção por Bartonella spp. nas amostras de sangue dos pacientes portadores de DF, atendidos no ambulatório de transfusão de troca manual (ATTM) do HEMORIO, e dos doadores que deram origem aos hemocomponentes utilizados pelos pacientes. Metodologia: Trata-se de um estudo analítico seccional com um componente prospectivo envolvendo a obtenção das informações clínico-epidemiológicas a partir do banco de dados e análise de amostras de pacientes portadores de DF atendidos no ATTM do HEMORIO, de janeiro/2021 a abril/2023. O outro componente é retrospectivo, a partir da análise de amostras dos doadores de sangue que deram origem aos hemocomponentes utilizados pelos pacientes, cujas informações clinicoepidemiológicas se encontram no banco do HEMORIO. A detecção de anticorpos IgG antiBartonella henselae e Bartonella quintana foi realizada pela reação imunofluorescência indireta, utilizando o Kit EUROIMMUN®, valor de corte de titulação 1:320 Principais resultados: Das 100 amostras sorológicas dos pacientes com DF que foram analisadas, 08 foram reativas para Bartonella spp., com uma prevalência de 8%. Não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os pacientes sororreativos e os não sororreativos em relação ao sexo, grupo sanguíneo, contato com cão e/ou gato. Das 66 amostras dos doadores dos pacientes sororreativos, todas foram não reativas. Conclusões: Embora os resultados obtidos apontem que a infecção possa ter sido adquirida na comunidade, a presença de pacientes sororreativos para Bartonella spp. neste estudo reforça a necessidade da inclusão da análise molecular nos protocolos de investigação anual de patógenos passiveis de serem transmitidos via transfusão aos quais os pacientes portadores de DF são submetidos, assim como nos protocolos de investigação de reação transfusional febril nas amostras de pacientes e dos doadores que dão origem aos hemocomponentes utilizados por eles; visando aumentar a segurança transfusional em relação a uma zoonose emergente no mundo e que pode ser o agente causal das complicações que acometem pacientes com DF