Sinais e sintomas associados à baixa saturação periférica de oxigênio entre casos suspeitos de COVID-19 avaliados por consulta remota

Abstract

O monitoramento remoto é uma prática recomendada para o acompanhamento da evolução clínica de pacientes com Covid-19 mantidos em isolamento domiciliar a fim identificar oportunamente sinais e sintomas de agravamento. No Brasil, cabe aos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) realizar esse monitoramento no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, não existem instrumentos validados para a identificação remota da dispneia ou de outros sinais de hipoxemia. Para abordar essa lacuna, foi criado um roteiro de entrevista clínica estruturado e estabelecida uma rotina de monitoramento com oximetria domiciliar para casos suspeitos de Covid-19 com maior risco de agravamento. O objetivo desta dissertação é investigar a associação entre sinais e sintomas clínicos avaliados por consulta remota e baixa saturação periférica de oxigênio (SpO2) (menor que 95%) entre pacientes com suspeita de Covid-19 atendidos inicialmente na APS. Foi realizado um estudo prospectivo de acurácia diagnóstica com adultos suspeitos de Covid-19 atendidos em duas unidades de APS de Manguinhos, no Município do Rio de Janeiro. Foram elegíveis indivíduos com mais de 40 anos de idade ou algum fator de agravamento que tivessem acesso à internet e smartphone com aplicativo de videochamada. Os participantes receberam oxímetros de pulso e foram contactados para consultas remotas com vídeo a cada 48 horas, seguindo roteiro estruturado de entrevista clínica para registro de sinais e sintomas e SpO2. A associação entre os dados clínicos e uma SpO2 menor que 95% foi investigada através de regressão logística com variância robusta. Foram analisadas 749 consultas remotas com oximetria de 381 participantes, no período de setembro/2020 a agosto/2021 Todos os sintomas investigados como supostos sinais de alerta de gravidade estiveram associados à SpO2 baixa nas consultas remotas, com destaque para fadiga intensa (OR 44,3; IC95% 9,58-205,38); mau estado geral/dispneia objetiva (OR 22,8; IC95% 8,06-64,49); dispneia com atividades leves ou em repouso (OR 22,1; IC905% 8,54-57,41); e dor muscular intensa (OR 19,97%; 5,25-76,01). Todos os sinais de alerta apresentaram especificidade acima de 84%, porém tiveram baixa sensibilidade, variando de 17,4% (fadiga intensa) a 51,9% (dor forte no peito ou nas costas). A presença de pelo menos um de seis sintomas de alerta (OR 27,86; IC95% 6,34-122,48) apresentou sensibilidade de 71,7% e especificidade de 91,7%. Conclusões: A utilização de um roteiro estruturado para entrevista clínica permitiu identificar respostas associadas ao maior risco de hipoxemia concorrente entre casos suspeitos de Covid-19 acompanhados de forma remota. Um conjunto de sinais de alerta se mostrou fortemente associado à hipoxemia (SpO2 ≤ 94%) e pode auxiliar na identificação do agravamento do quadro respiratório e na seleção de pacientes para avaliação clínica presencial na ausência de oximetria digital