Estudo das características morfofisiológicas e do potencial patogênico de isolados de Sporothrix schenckii preservados na coleção de cultura de fungos filamentosos do Instituto Oswaldo Cruz

Abstract

A esporotricose é a principal micose subcutânea no Brasil, causada por espécies do gênero Sporothrix e é considerada a maior epidemia por transmissão zoonótica em curso no mundo atualmente. A Coleção de Culturas de Fungos Filamentosos do Instituto Oswaldo Cruz (CCFF)/FIOCRUZ possui, dentre as diversas espécies preservadas, isolados identificados como Sporothrix schenckii, mantidos em preservação desde a década de 1920, antes da epidemia de esporotricose do Rio de Janeiro. Mas, a partir de 2007, baseados em estudos filogenéticos, foram descritas novas espécies patogênicas do gênero, fisiologicamente diferentes, inclusive no perfil de virulência. Dessa forma, os objetivos do estudo foram avaliar a viabilidade e a estabilidade in vitro do padrão morfofisiológico dos isolados de Sporothrix schenckii após preservação; autenticar as espécies utilizando taxonomia polifásica, identificar a presença do locus mating type (MAT) dos isolados e tentar correlacionar com a virulência das espécies autenticadas, utilizando modelo experimental murino. Para isso, foram avaliados 34 isolados mantidos na CCFF-IOC desde seu depósito, entre os anos de 1927 e 1965, preservados em meio batata dextrose agar (BDA) sob óleo mineral. A metodologia inicial deste estudo consistiu na retirada dos isolados do meio de preservação, seguida de subcultivo das amostras, para análise da viabilidade e características morfológicas e fisiológicas, tais como: estabilidade macro e micromorfológica; termoconversão; assimilação de carboidratos. A caracterização genotípica foi realizada por meio da extração de DNA e sequenciamento parcial de genes β-tubulina (BT2) e quitina sintase (CHS), bem como a caraterização pela metodologia do T3b fingerprinting e a identificação dos genes MAT1-1-1 ou MAT1-2-1 por PCR Para a análise da virulência dos isolados foram inoculados em camundongos BALB/c, os animais foram acompanhados quanto à evolução clínica da infecção/doença, taxa de mortalidade, índice esplênico, recuperação de células fúngicas e análise histopatológica. Como resultados, dos 34 isolados da CCFF, sete se mantiveram viáveis após longo tempo de preservação sob óleo mineral e apresentaram características morfofisiológicas compatíveis com o gênero Sporothrix. O sequenciamento parcial da BT2 e CHS de todos os isolados, identificaram-os como S. schenckii strito sensu e apresentaram variabilidade intraespecífica entre as espécies pela análise filogenética do BT2. A análise dos perfis de T3B de todos os isolados autenticaram as amostras na mesma espécie, a partir da avaliação do perfil de bandas de DNA. Concluímos, que nossos dados não mostraram correlação entre a identificação do locus MAT dos isolados S. schenckii sensu stricto com sua virulência. Além disso, foi possível inferir diferentes graus de virulência/patogenicidade entre os isolados e apontar a existência de variantes de S. schenckii sensu stricto com a virulência atenuada que podem oportunizar, com novas tecnologias, estudos que possam estar relacionados com a patogênese da esporotricose.