As doenças do aparelho respiratório na Amazônia legal brasileira: distribuição espaçotemporal e os efeitos do material particulado fino e temperatura sobre a saúde de grupos etários vulneráveis

Abstract

A região Amazônica é impactada por um processo histórico de ocupação e degradação ambiental que tem como principais vetores a expansão da agricultura e agropecuária sobre áreas de floresta, a exploração ilegal de madeira e minerais e a especulação imobiliária. Entre 2009 e 2019, a região observou um aumento de 35% no desmatamento e 24,5% nas queimadas. As queimadas e incêndios florestais foram responsáveis pela emissão de cerca de 1,68 toneladas de material particulado fino (MP2,5) por ano, entre 2009 e 2019, e somente em 2022 contribuíram para a emissão de cerca de 907,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente. O MP2,5 emitido tem grande potencial para afetar a saúde dos habitantes da Amazônia Legal Brasileira (AML), cerca de cerca de 27 milhões de pessoas, contribuindo para internações e óbitos por causas respiratórias, afetando especialmente crianças, adolescentes e idosos que representam 42% da população da AML. Nossa primeira analise buscou identificar aglomerados espaço-temporais compostos por municípios com elevada ocorrência mensal de internações de crianças e adolescentes e de óbitos de idosos, ambos devido a doenças do aparelho respiratório, no território da AML entre 2009 e 2019. A análise detectou 39 aglomerados de elevada ocorrência de internações por DAR e 19 aglomerado de elevada ocorrência de óbitos por DAR. A distribuição dos aglomerados é variada, sendo formados por municípios localizados em regiões metropolitanas e adjacências, e em áreas afastadas dos grandes centros. As varreduras também identificaram áreas de risco persistente, destacando municípios e regiões identificados em estudos anteriores Em seguida, através do cálculo de índices sintéticos, ponderando diferentes indicadores municipais como, condições de moradia, perfil da educação, concentração de MP2,5, entre outros, destacamos municípios prioritários dentro dos aglomerados detectados em cada Estado. Posteriormente, analisamos o efeito defasado da interação entre a exposição ao MP2,5 e temperaturas elevadas (> percentil 90) sobre as ocorrências de internações de crianças, adolescentes por DAR e de óbito de idosos por DAR na AML. Observamos uma associação significativa entre a exposição e os desfechos analisados, com efeitos lineares e defasados em ambos os grupos etários. Para um aumente de 10 μg/m³ na concentração mensal de MP2,5 na AML, observamos um aumento de 1,8% no risco de hospitalizações por doenças respiratórias em crianças e adolescentes no lag 3, e um aumento de 2,8% no risco de óbito por doenças respiratórias de idosos no lag 0. Este trabalho contribui para o conhecimento da distribuição espaço-temporal das doenças respiratórias na AML e a definição de municípios prioritários para intervenção, além disso, trouxe resultados que se somam ao corpo de evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde respiratória da população, particularmente durante os períodos de secas intensas e elevadas temperaturas. Os resultados reforçam a necessidade de ações imediatas para reduzir significativamente as queimadas e incêndios florestais na região, expandir a vigilância da qualidade do ar e melhorar a comunicação de risco decorrente do processo de poluição do ar associado com as altas temperaturas com a população.