Ecoepidemiologia da leishmaniose visceral americana no município de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil

Abstract

As Leishmanioses constituem-se em graves problemas de Saúde Pública e possuem ampla complexidade ecoepidemiológica, ocorrendo em diversos cenários epidemiológicos, no Brasil. Em relação à Leishmaniose Visceral Americana (LVA), o município de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil apresenta incidência de casos humanos e vem aumentando o quantitativo de casos caninos. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo contribuir para o entendimento do perfil de transmissão da LVA no referido município. Para tanto, buscou-se identificar a fauna de flebotomíneos do município estudado, com foco principal no vetor de LVA, relacionar a frequência mensal com os determinantes climáticos, em que variáveis socioambientais foram levantadas, objetivando identificar possíveis fatores de risco para o agravo. A fim de esclarecer aspectos epidemiológicos da cadeia de transmissão, buscou-se determinar a origem da fonte alimentar sanguínea de Lutzomyia longipalpis e detectar a presença de Leishmania spp. nesse vetor. Ainda foi realizado o mapeamento da distribuição de Lu. longipalpis, no município, tanto dos casos humanos quanto dos caninos de LVA. Utilizou-se armadilhas luminosas HP para capturar flebotomíneos em áreas edificadas e florestais, distribuídas em 176 pontos de capturas. Em todo período do estudo foram capturados 2.141 flebotomíneos das espécies: Brumptomyia brumpti, Evandromyia (Aldamyia) evandroi, Lu. longipalpis, Micropygomyia quinquefer, Migonemyia migonei, Psathyromyia (Forattiniella) brasiliensis, Psychodopygus claustrei, Sciopemyia sordellii e Viannamyia furcata. A riqueza e a diversidade das espécies da área de mata foram maiores do que da área urbana. As variáveis ambientais temperatura e umidade foram significativas apenas na área urbana. A composição da diversidade entre as duas áreas foi distinta e o vetor da LVA, Lu. longipalpis, foi a espécie prevalente, mostrando sua capacidade de adaptação a áreas antropizadas. No município de João Pessoa, a abundância de Lu. longipalpis foi relacionada com o aumento da precipitação, presença de galinhas no domicílio e com a falta de pavimento público. Não foi possível identificar a fonte alimentar sanguínea das fêmeas de Lu longipalpis analisadas, e um espécime foi positivo para Leishmania infantum chagasi. O mapeamento de casos humanos e caninos de LVA, assim como a abundância de Lu. longipalpis mostraram que a distribuição ocorre em toda a área urbana do município. O estudo revelou que Lu. longipalpis encontra-se mais abundante na área urbana, assim como casos humanos e caninos de LVA, mostrando a urbanização do vetor no município. Através do conhecimento de quais variáveis contribuem para a abundância do vetor, os órgãos governamentais poderão adotar medidas sanitárias mais eficientes no controle das leishmanioses no município.